Não sei por onde eu começo. Alguns vão pensar "pelo começo". Dããã pra vocês. Antes de qualquer coisa quero deixar claro uma coisinha simples, mas que nem todos entendem: eu escrevo coisas que vivi, que ouvi, que inventei, imaginei, criei, viajei. Às vezes pego a história de um amigo, de um vizinho, faço umas modificações e pronto, mais um texto. Mas, definitivamente, não é a minha vida que está exposta, ok? Não estou contando coisas a meu respeito. Estou deixando esse registro porque muita gente pensa que só falo de mim e de sentimentos que existem ou existiram aqui dentro. Pois bem, essa é uma inverdade.
Voltemos ao começo, o que eu estava dizendo mesmo? Ah, eu não sabia por onde começava, pelo começo, dãã, ok.
Ando exausta. A vizinha me conta os problemas. Família, amigos, conhecidos, colegas, amigo do primo, irmã da cunhada, amiga da amiga da vizinha, atendente da loja, caixa do supermercado. Todo mundo vem e se queixa.
Se eu estou reclamando? Provavelmente sim. Estou farta de problemas. Me contem coisas novas, coisas boas, participem suas vitórias e conquistas. Vamos brindar e comemorar. Não quero saber do emprego que está ruim, da noiva que te deu o fora, do cachorro que está com carrapato, do pai que tá te pressionando, do casamento que está uma meleca, da tartaruga que morreu.
Não estou sendo indiferente, egoísta ou fria. Minha vida ultimamente tem sido segurar petecas, aqui e ali. Um amigo me disse: basta um sorriso. E eu ju-ro, basta um sorriso mesmo. Pessoas que nunca vi na vida passam por mim, olham e se eu dou um sorriso, danou-se. Contam seus problemas. Imã. Adoro ajudar, de verdade. Me sinto bem, útil. Seja com um abraço, uma palavra reconfortante, um colo, um ombro pra ser o esconderijo quando tudo está uma porqueira véia. Me sinto bem em fazer o bem. Gosto de ajudar a achar uma saída, seja pela porta da frente, dos fundos ou até mesmo uma janelinha.
Só que eu cansei. Quero um tempo pra mim. Preciso cuidar da minha vida, parar, me preocupar comigo e com o que realmente quero pra mim. Preciso fazer algo por mim, pra mim, preciso aprender a dizer "não".
Não vou tirar férias dos amigos, não é isso.
Só estou dizendo que não sou essa fortaleza, essa mulher auto-suficiente, inabalável e incrivelmente disposta que os outros pensam. Tenho meu lado frágil, inseguro e medroso. Nem todo mundo me conhece sob esse prisma.
Na realidade estou dizendo que não quero ouvir problemas por enquanto. Também não quero ninguém para ouvir os meus. Quero ficar quieta. Me esconder de todo mundo, só por uns dias. Ah, também quero um colo. Um colo-mudo. Que só abrigue e não fale.
Desculpa, ando meio ácida. Volto quando meu lado doce ressurgir.