Cansei de paixão-relâmpago e affair-arrasa-coração. Semi-amor também não faz a minha cabeça.
Numa noite de superprodução (aquelas de abalar Paris) a gente conhece um homem lindo. Beija e pensa "meu Deus do céu, encontrei o homem da minha vida, pai dos meus 5 filhos, quero ficar a vida inteirinha com ele!"). A gente vai pra casa dele, transa a noite toda, no outro dia acordamos e olhamos para o travesseiro: rímel na fronha. Epa, devo estar parecendo um monstro! A gente levanta pé por pé, entra no banheiro, lava bem o rosto, mais rímel, penteamos o cabelo, escovamos os dentes e...linda! Voltamos pra cama. Beijinho de bom dia. E mais sexo. "Te ligo amanhã" (ou nunca mais).
Espera. Ta tudo errado. O mundo ta errado. As pessoas estão erradas. Talvez eu esteja errada. Podem me atirar pedras: não beijo qualquer um, por mais lindo que o cara seja. Se for mané, bye, bye. Odeio homem sem papo. Olhou, curtiu, beijou? Não. Tenho nojo. Isso mesmo, no-jo. Não sei onde o cara "andou" com a boca. Não beijo. Ir pra casa de um sujeito que só sei o nome? Não mesmo. É perigoso demais nos dias de hoje. Pode ser um louco, maníaco, pervertido, assassino, tá bem, pareço a minha avó, mas é verdade. E sou do tempo da vovó mesmo. Gentileza. Sorriso. Todo aquele frio que dá na barriga. Todas aquelas etapas da conquista. Isso é gostoso.
Não quero ter que pular da cama pra dar um jeito no rosto que ficou borrado, não quero ter que me desfazer da cara de urso panda cheio de rímel. Quero acordar com a maquiagem borrada e dar um sorriso. E continuar linda de morrer. Cara lavada. Cara amassada. Inchada. Cara de sono. Olheiras. Nada de "te ligo amanhã" (ou nunca mais). Quero a certeza que ele vai ligar amanhã. A certeza de que o cara não é assim com todo mundo, não usa o artifício de "sei fazer todas as mulheres se sentirem únicas e especiais". Quero olhar pra ele e sentir que sou a única. E especial. Mesmo com TPM. Mesmo com mau-humor. Com minhas esquisitices amorosas. Minhas crises existenciais. Minhas filosofias de barzinho com cadeira de ferro. Meus defeitos. Meu jeito infanto-adulto. Quero que ele entenda que às vezes meu sorriso é forçado. E que às vezes dou risada pra segurar aquela lágrima idiota. Quero que ele perceba meu sorriso trêmulo. Quero que ele segure a minha mão e diga que tudo vai ficar bem, mesmo que a gente saiba que está tudo estranho. Não quero nada fugaz e sem sentido (mesmo que eu seja uma pessoa sem sentido/com sentido/meio sentido/pouco sentido). Não quero nada apressado, apesar de eu ter pressa danada de viver.
Quero poder ser eu, sem nunca me esforçar pra agradar. Conseguir agradar sem o menor esforço. Não quero paixão-relâmpago, affair-arrasa-coração e semi-amor.
Não sou do lema "qualquer paixão me diverte". Quero me apaixonar e me divertir. E não me divertir com paixões baratas.