Ele nunca me deixa na mão. Gostoso, saboroso, delicioso. Possui vários tons, aromas, é encorpado, me deixa vermelha, solta, fresca, falando besteira. Vinho. Tim-tim. Meu fiel companheiro, escudeiro, eiro, eiro. Hoje estou particularmente com uma cara de paisagem desbotada que te conto! Está chovendo, a chuva me deprime em algumas ocasiões. Nunca soube explicar bem, não sou depressiva, nem tenho tendência, pelo menos eu acho. Achar não é ter certeza. Mas já fiz terapia e me dei alta e tudo mais e acho que não tenho. O foco não é esse, o foco é a onda triste que quase me afogou por essas bandas. Por quê? Ah, tristeza se explica? De vez em quando fico triste do nada, com motivo ou sem motivo. De vez em quando fico feliz do nada, com razão ou sem razão. É assim, as vezes dá vontade de sair pulando, distribuindo beijinho, dando abraços e, em outras, dá vontade de mandar todo mundo pra muito, muito longe. Acreditem, meu humor muda rápido, meu estado de espírito passa de rosa pra preto em menos de um milésimo de ésimo de ésimo de segundo, se é que existe isso. Ah, fiquei triste. Estava um calor tão quente que quase derreti. Eu estava suando, odeio suar, ficar colando, grudada, melecada, me dá agonia! A gente toma banho e já sai suando? O que é isso? Eca! Então eu estava meio mal-humorada. Mau-humor passou quando a chuva começou a cair. Deu um vento daqueles de filme de terror que fica “uuuuuu uuuuuuuu” assombrando a gente. Não, ninguém saiu de trás da cortina, mesmo porque vocês sabem que eu odeio cortinas. Mas fiquei com medo. Depois do medo veio a tristeza. Está chovendo, meio quente, meio vento e eu estou aqui, com uma metade. E essa metade está prejudicada pelo vinho, com alguns calos e cabelo emaranhado. A outra? Não sei, daqui não vejo nada. Procura a minha outra metade aí em algum canto daquela tua calça jeans estonada. Lembro que me enfiaste no bolso antes de sair apressado pra nunca mais voltar...
"Chega de saudade, a realidade é que sem ele não há paz, não há beleza é só tristeza e a melancolia que não sai de mim, não sai de mim, não sai...Mas se ele voltar, se ele voltar, que coisa linda...que coisa louca... pois há menos peixinhos a nadar no mar, do que os beijinhos que eu darei na sua boca. Dentro dos meus braços, os abraços hão de ser milhões de abraços: apertado assim, colado assim, calado assim; abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim, que é pra acabar com esse negócio de viver longe de mim. Não quero mais esse negócio de você viver assim! Vamos deixar desse negócio de você viver sem mim!"
(João Gilberto)
