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"Eu que não fumo queria um cigarro
Eu que não amo você
Envelheci dez anos ou mais nesse último mês
Eu que não bebo pedi um conhaque pra enfrentar o inverno
Que entra pela porta que você deixou aberta ao sair..."

(Engenheiros-Eu que não amo você)



Já percebeu que todas as mulheres que terminam relacionamentos (de qualquer espécie, ok? e não importa se levaram pé na bunda ou se deram) resolvem mudar? Decidem voltar pra academia e/ou intensificar as horas de gasto calórico; renovam o armário; marcam viagens; se atiram de cabeça no trabalho; cortam o cabelo; trocam a cor das madeixas e por aí vai. Ajuda? Acalma? Ameniza? I don´t know. Eu decidi não mudar nada. Não inventei nenhuma moda, não mudei meu comportamento, hã, hã. Sou a mesma pessoa. Quem me vê acha que sou a mulher mais alegre do planeta. Os outros não têm culpa dos meus problemas, desilusões, ilusões, etc. Ninguém pode carregar esse peso. Nem eu. Ao invés de "mudar", resolvi conversar comigo. Uma conversa honesta, franca, madura e aberta. Quem estava conversando? Eu e minhas múltiplas personalidades.

Vou dizer: não tenho pena de mim e não me culpo por nada. Aham, minha consciência está numa boa, super acalorada, despudorada, dando pulinhos e distribuindo abraços. Não preciso encher o meu armário de nada, trocar minha forma de ser, modificar minhas melenas. Nananinanana. Está tudo ok. A gente sempre insiste em achar um culpado, talvez pra se sentir mais sossegado. Pode ser? Não, não pode ser. É. Acredita, é assim que funciona.

Eu achava que era insubstituível. Pensava que era inesquecível. O máximo. Poderosa. Magnífica. Absoluta. Atrevida. Necessária. Tinha a ilusão (ilusões, ilusões) que coordenava, que tinha o domínio, permanecia com as chaves na mão, com as cartas na manga. Mentira. Tsc, tsc. Eu não sou nada disso. Hoje tu podes lembrar de mim, amanhã não mais. Hoje posso ser tri importante na tua vida, daqui a pouco...hã, hã. Hoje posso ser quem tu mais desejas, precisas, queres, almejas...amanhã...tudo muda. Não sou insubstituível, pelo contrário, sou super fácil de ser substituída, não é mesmo? Na verdade sempre fui um tapa-buraco, tapa-furos. Sabe que isso me dói? Ela pisca o olho, estala os dedos e tu vais, sem medo, sem nada que te impeça, sem vergonha nessa cara linda, tu te mandas. Te entregas. E esqueces. Então eu não sou nada.

Em alguma parte do caminho eu achei que fazia a grande diferença. Mas os dias mostraram que eu não era o ponto e vírgula, não era o travessão, não era o parágrafo que faltava aí. Não sou nada disso. Sou uma pessoa normal, com falhas, uma mulher como outra qualquer. Que ri, chora, faz merda, faz coisa boa, que ama, tem chilique, ataque, mas que é única. Única, mas não inesquecível. Pelo contrário, sou fácil de ser esquecida, não é mesmo? Basta chegar aquele par de olhos azuis na tua frente.

Aí está um dos meus grandes recalques (talvez pelas minhas "rivais" sempre terem olhos claros): olhos azuis ou verdes. Olhos castanhos são comuns, normais, triviais, banais. Acho que sou assim. Bem comum. Não sei por qual motivo me acho tão, tão...diferente. Me sinto meio fora do contexto, aí inventei uma lógica, uma razão pra mim. Mas sou comum demais. One more time: malditas mulheres de olhos claros!!! (perdoem, gurias!)

Quando eu era pequena me chamavam de "sardinha enlatada", nossa, cresci odiando as minhas sardas! Como crianças são más, não é mesmo? Virei adolescente, passei a gostar, adorar, amar. Sempre quis andar como bailarina, sentar com aquela pose bonita. Fiz ballet uns 4 anos e parei. Não gostava. Mas devia ter continuado: seria bem magrela. Pensando bem, não, não, meus pés seriam tortos e cheios de calos. É, mas eu queria ter o cabelo mais cheio, assim, com o fio mais grosso, sabe? Meu cabelo é fininho, de bebê. As pessoas nunca estão satisfeitas, não é mesmo? Eu queria ser magrela, queria não ter uma bunda grande, peito grande, ter olhos verdes ou azuis e ter o cabelo cheio. Mas aí, bem, aí eu não seria a Clarissa. Seria outra. E não quero ser outra. Quero ser eu. Mesmo que essa "eu" não seja boa o suficiente pra ti. Mesmo que essa "eu" não tenha te feito ficar. Desculpa. Sou somente eu. E nem me sinto culpada por isso. Não vou fazer megahair, colocar lente azul e fazer a dieta de South Beach. Não. Quero ser assim: imperfeita. Defeituosa. Mas com a consciência transparente. Sem culpa e sem medo. Se eu pudesse fazer um pedido, seria esse: sentir menos. Meu erro é sentir demais. Sentir daqui até o céu.
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