Cartas têm sentimento. Você parou, escolheu um papel bonito, uma caneta (de preferência que não falhe), um bom lugar para sentar e escreveu. E escreveu. E escreveu. Envelope. Entregue em mãos ou via correio. Cartas têm destino. Pode ser para uma super amiga, o destinatário pode morar na mesma cidade, outro estado, outro país. Pode ser para um amor do presente ou do passado. Cartas têm vida. Nos tocam, emocionam e nos deixam felizes. E-mails são frios, meio mecânicos, automáticos e sem vida. É evidente que, para assuntos urgentes, eles são válidos. São práticos. Mas e-mails tiram o encanto. Existe coisa mais linda que um cartão-postal? A pessoa viajou, lembrou de você, comprou um postal, escreveu e mandou. Alguns dirão: mas eu sento para escrever e-mail, gasto alguns minutos ali. Eu sei, mas carta é diferente. É gostoso receber uma carta. Carta é eterna. Não dá erro. O papel tem cheiro. Carta se guarda em caixa. O papel amarela. Você lê e relê. Ok, pode imprimir o e-mail. Letra times new roman. Número 12, não esqueça. O que é isso? Quero a letra da pessoa. Legível. Ilegível. Com erros de português e acentuação. Sem erros. Linha torta. Caneta preta, azul, verde. Não adianta, cartas nos seduzem. São belas. Agora vamos para as fotos. Máquina digital. Uau, grande invenção. Tira a foto, saiu vesgo, descabelado, esquisito, fora de foco? Apaga. Deleta. Tira outra. Ah, ainda não ficou boa. Tira mais uma. E vai tirando até sair a foto perfeita. Se for fantástica, grava num CD e manda revelar. Quem tem papel específico imprime em casa mesmo. Fácil, não? Eu odeio. Gosto de foto antiga, máquina antiga. Filme 24, 36 poses. Tira a foto, termina o filme, manda revelar e aguarda ansiosamente as fotos. Surpresa! Ih, saiu uma torta, uma feia, uma com os olhos vermelhos. Isso é vida. Nem sempre é perfeita como aquela foto tirada cinco vezes (até sair magnífica) na digital. Ainda prefiro foto preta e branca. Elegante. Mais viva. Adoro cores, mas tem coisa mais bonita que uma foto preta e branca em um dia chuvoso? Se for foto colorida fica aquela cafonice de mil guarda-chuvas coloridos, floridos, estampados, etc. Horrível. Foto preta e branca traz nostalgia, tem ar dramático. Te faz viajar. Gosto da surpresa, do acaso, do esperar pra ver como ficou. É mais emocionante. Amo fotos. Gosto de ver o resultado, mas detesto tudo programado. E-mail tem cara de formalidade, carta é informal, é bonita, simples, pode ser em papel de pão ou em folha A3. Foto? Prefiro câmeras profissionais ou aquelas à prova de burro, que é só apertar o botão (antes, por favor, olhe no buraquinho e aproxime-se do tema. Iluminação também é tudo). Click. Digital é prática, mas ficou feio e você apagou. Na vida os deslizes não são deletados.Cartas e máquinas antigas. Não adianta, sou do tempo da vovó. Uma simples alma que gosta de pequenas, médias e grandes emoções. Pronto, terminei meu momento-retrô.
Sobre o blog
Clarissa Corrêa
Clarissa Corrêa é escritora e redatora publicitária.
É autora dos livros Um pouco do resto, O amor é poá, Para todos os amores errados e Um pouco além do resto.
Já foi colunista do site da Revista Tpm, do Vila Mulher e do Donna.
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