Lálálá. Vou tapar os ouvidos e não escutarei mais nada. Lálálá. Não quero nem sabe-er. Sai daqui-i. Comportamento super adulto, estou sabendo. Lálálá. Cai fora-a. Extremamente adulto-o. Já estou a pa-ar. Fica quieta um instante, dona Consciência? Obrigada. Vamos cantarolar uma música mentalmente. Qual será, hum, veremos. Ah, tem-que-ser a que eu adoro: “it makes me feel so fine it helps to release the mind sexual…healing, is good for me sexual healing is something that’s so very good for me…”. Toca um Ben aí.
Enquanto o Ben está rolando na vitrola (!!!) vou me despir. Não vou tirar a roupa, mente poluída e perversa a de vocês. Vou me despir de tudo, vou ficar livre, não vou deixar nada entre mim e meus sentimentos, nada entre meu eu pensante e meu eu que sente (errante?). Pronto, tirei. Ai, que frio, é desconfortável assim, falta uma proteção. E o Ben chegou ao fim. Vamos para o Jack, “Upside down”. Exatamente assim que me sinto: de cabeça para baixo. Uau, que maneiro! Puta sensação, meu! Puta nada. Maneiro nada.
Você já se sentiu um completo (a) idiota? Idiota não tem feminino ou masculino. Então é idiota apenas e tanto faz se você é homem ou mulher ou bicha ou sapatão ou travesti. Idiota é idiota. Volta a fita, a vitrola (!!!), volta tudo. Você já teve essa sensação? Você já viu essa cena? Para não deixar dúvidas na cabeça de vocês vou dizer qual é a cena-sensação-idiótica. Garganta fechando. Nariz dando aquela coceirinha e uma leve tesourada, alfinetada, qualquer “ada” que é o prenúncio do choro. As minhas vontades de chorar surgem do nariz. Sinto essa alfinetada, tesourada, a família ada e já sei: lá vem oceano índico. E vem mesmo. Depois os olhos ficam marejados. E as lágrimas surgem-de crocodilo ou não, na vida existe a ceninha dantesca pra fazer um agá. (pisquei o olho, você viu?)
All right. Garganta fechando. Nariz dando coceirinha. Paulada imaginária na cabeça. Beslicão imaginário na nuca. Cara de ah, é. Vocês conhecem cara de ah, é? Não? É assim: alguém fala alguma coisa estapafúrdia e pilantra e você pensa “ah, é”, aí a cara surge. Cara de ah, é é exatamente isso. Fechado? Ótimo, adoro pessoas espirituosas e inteligentes que nem vocês.
Estou me sentindo uma completa idiota e não há nada que alguém diga, mostre ou faça que apague isso de mim. Até chocolate eu recusei, não devo estar num bom momento. Até a lambida da Mel eu não valorizei, realmente não estou num bom momento. Mas uma taça de champa da boa não nego, ah não! Não estou num bom momento, essa é a desculpa ótima pra duas, três, quarenta e nove taças e meia de champa. Não acham? Pois eu acho e nem quero saber se vocês acham porque eu achando é a conta.
Toda idiota que se preze conta o motivo da sensação idiotística estar fazendo parte do seu dia-a-dia. Mas eu não conto. É vergonhoso demais. Só posso dizer uma coisa: fui muito idiota. Não conheço alguém mais idiota do que eu. É fase, I know. Passará, I know.
You broke my heart, son of a bitch!!!!!!
Sobre o blog
Clarissa Corrêa
Clarissa Corrêa é escritora e redatora publicitária.
É autora dos livros Um pouco do resto, O amor é poá, Para todos os amores errados e Um pouco além do resto.
Já foi colunista do site da Revista Tpm, do Vila Mulher e do Donna.
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