Por volta das dezesseis horas eu estava perambulando pelo shopping, em uma tarde qualquer do mês de julho (ou seria início de agosto? isso não importa.). Entrei em uma loja de brinquedos e vi um simpático elefantinho de pelúcia. Pequeno, cinza, olhos azuis e tristes, cara de fofo. Comprei para dar para você- e nunca dei para você.
A intenção foi lhe comprar um presente e o elefante acabou ficando como meu guardião. Ele ficava ao lado da minha cama, eu lhe dava bom dia e boa noite e ele era meu fiel ouvinte. Para ele contei meus maiores problemas, nele sequei algumas lágrimas e em seu corpo borrifei um pouquinho do seu perfume. O elefantinho tinha o seu cheiro e os meus segredos. Precioso. Incansável.
Acabei me dando de presente o que era para ser seu, mesmo porque você nunca fez muito esforço para tê-lo, de alguma forma ele foi renegado por você. Mas ele nunca se importou, pois eu estive ao lado dele todas as noites. Eu sempre me importei, pois você agia com descaso e o considerava um encosto. Não, o elefantinho nunca foi o meu encosto, ele sempre foi meu amigo e demonstrou carinho por mim.
Preciso me despedir do bichinho de pelúcia, não encontro formas. Dar para alguém? Não consigo, ele é meu, sou possessiva e ele vai morrer comigo. Morrer, literalmente. Não vou dar, não tenho coragem de jogar no lixo, não posso escondê-lo no baú. A única saída é matá-lo, assassiná-lo com uma tesoura. Ou faca. O certo é que ele precisa morrer.
Para vocês, eu sei, é apenas um elefante de pelúcia cinza, possuidor de olhos azuis e tristes, tristes e azuis, com o corpo fofo e cheiro bom. Para mim é mais do que isso, é o retrato de uma história, é o depósito de um sentimento, é uma medalha de emoção, um amuleto de paixão, uma caixa de planos e o símbolo de todas as coisas lindas e feias e boas e bobas que senti por você até o presente momento. Para mim ele é uma parte sua, parte que está comigo, que me pertence. É difícil dar adeus, mas é necessário. É complicado ter a frieza de pegar uma tesoura e sair feito uma desvairada cortando e furando o coitado. Eu sei, ele não tem nada a ver com isso e, ao mesmo, tudo a ver com isso.
Ele tem que morrer. Eu tenho que viver. E você tem que sair daqui. De mim. Dele. Você tem que sair do seu perfume e daquela letra de música. Você tem que sair de mim. Com licença, preciso ser feliz. Tenho o direito de espalhar o meu amor por aí, com ou sem você. Já que não tem pique para me acompanhar: bibiiiiiiiiii, sai da frente!!!
Sobre o blog
Clarissa Corrêa
Clarissa Corrêa é escritora e redatora publicitária.
É autora dos livros Um pouco do resto, O amor é poá, Para todos os amores errados e Um pouco além do resto.
Já foi colunista do site da Revista Tpm, do Vila Mulher e do Donna.
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