"(...) O que obviamente não presta sempre me interessou muito. Gosto de um modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão."
(Clarice Lispector)
O que presta é o que me interessa. O que não presta é o que não me chama a atenção e o que não quero para mim. O que eu quero, agarro. O que eu desejo, abraço. O que eu sonho, desenho. O que eu penso, falo. O que eu acho, faço. O que eu imagino, escrevo. O que eu sinto, escondo.
Nem sempre eu mostro, mesmo que tente. Não tenho um botão on/off que é ativado com um toque. Não sei ser colocada no pause. Nem no repeat. Mas sei bem aonde fica a minha tecla do stop. Sei quando tenho que parar. Muitas vezes preciso parar para poder continuar andando. Preciso retomar o fôlego, respirar fundo, tomar um ar, sentir o sol entrar pela janela. Eu admiro quem consegue ser, mostrar, fazer. Admiro quem sente, realiza e não tem medo.
Eu morro de medo. E não tenho medo de dizer que tenho medo. Só que eu me orgulho em falar que enfrento, na medida do possível, meus medos. Sem armas. A arma sou eu e o próprio medo. Eu tento. Pior é quem se esconde atrás do armário.
A busca da perfeição não me agrada. Eu gosto de errar. Sinto o cheiro e o gosto dos meus erros. E simpatizo com eles. O certinho me causa desconfiança. Antipatizo com o correto. Mais: não sou politicamente correta. Não fico em cima do muro. Tenho opinião. Encrenco. Defendo os meus argumentos. Falo mal de quem merece. Sou dura. Muitas vezes sou fria. E é tudo disfarce, faz parte do meu medo.
Presta atenção: nem sempre eu escrevo as coisas certas. Nem sempre coloco nas linhas o que interessa para você. Mas posso te afirmar que sempre fui desajeitada. Uma desajeitada maluca, mas que ama. E morre todos os dias por amar demais.