Vinho branco, pirulito com chiclete e saudade
By Clarissa Corrêa | 23:31
Existem dias em que a gente tenta explicar o que está lá dentro e não sobram palavras. Existem dias em que a gente tenta expulsar o que está lá dentro e não tem jeito. Existem dias em que a gente não queria ter nada lá dentro e...não consegue!
Hoje lembrei de você. Fui ao cinema e pensei em você o tempo inteiro. Não me concentrei no filme. E imaginei você ali, ao meu lado. Seu cheiro estava por ali, pelo menos no meu nariz. Têm vezes que o seu cheiro não quer me abandonar. Na verdade eu nem quero me libertar dele. Você ali ao meu lado. Eu com a cabeça no seu peito. Olhos fechados. Nosso corpo colado. Sua mão no meu cabelo. Minha boca no seu pescoço. Queria que fosse assim. Imaginei dessa forma: minha boca fazendo o seu pescoço de travesseiro. Minha mão fazendo a sua nuca de cobertor. E nóis dois sem prestar a menor atenção em nada, a não ser em nós mesmos. Cochichando. Não falando nada. Fazendo do silêncio o nosso melhor aliado. Fazendo do silêncio o nosso mais bonito olhar.
O filme terminou e eu vi que não adiantou nada trazê-lo para perto, mesmo em pensamento, pois você não veio.
Voltei para casa me sentindo solitária e estranha e o dia se tornou solitário e estranho e eu abri uma garrafa de vinho. Vinho branco, gelado. No verão é ótimo, desce bem, faz com que a noite não se torne tão inimiga. Então eu bebi e o vinho foi passando pelo meu corpo inteiro e foi me dando um calor e um calor e um calor que me deu mais saudade de você.
Aí achei meu pacote de pirulitos lá no fundo armário. Meu preferido: pirulito da Mônica (que vira chiclete). Coloquei a mão no saco e estava vazio. Devo ter feito alguma cara meio confusa, meio decepcionada. Então achei outro saco: pirulito de 7 belo. Peguei 2 e saí. Mas fiquei pensando porque o saco do meu pirulito preferido estava vazio. Detalhe: vazio e dentro do armário, dentro do armário e vazio. E me dei uma definição: me senti um saco vazio dentro de um armário abandonado. Um saco abandonado dentro de um armário vazio.
O vinho foi me causando sensações não traduzíveis, me encontrei semi-bêbada e com saudade. Não uma saudade ruim. Uma saudade doce. Doce e suave e com gosto de pirulito. Fui até o armário e vi que lá no fundo, bem atrás tinha o sobrevivente do saco vazio. O último e abandonado pirulito preferido. Troféu da noite.
Passei a mão nele, enchi um copo de água gelada e fui para o quarto. Passei o meu dia a limpo. E pensei: não tem jeito. Eu te amo.