Os dias se arrastam, você se distrai com o que a imaginação dá. Os dias são longos, você engana o coração engolindo os sentimentos. Os finais de tarde apertam a saudade e você toma um banho pra fingir que nada está havendo.
É urgente, baby, é urgente. Você tem que entender, atender, aceitar, fazer força. Você chora. Esquece que está de rímel e chora e fica com a cara preta e se olha no espelho e vê que tá igual a uma bruxa e chora mais e seca as lágrimas com as costas da mão que também fica bem preta. Seu nariz fica vermelho, entupido, sua garganta dói. Aí você pensa que é a única sofrenilda que está sentindo falta do baby atrasado.
Naquela meia hora você lembra que arrumou a mala correndo, mas jogou lá dentro todas as roupas que você usaria, não usaria e nem tocaria. Um golinho, você levanta. Outro golinho, você senta. Sofá ruim, você pensa. Na hora seguinte você lembra que os problemas não gostam de cordão de isolamento, eles vão junto, se enfiam na mala, pesam, mas vão. Você pode ir para o Alaska, eles irão com você. Bingo!
Outra garrafa, chega de golinho. Gargalo. Você chora e soluça e pensa que é uma idiota. Baby deve estar ocupado, sorrindo, feliz, vivendo sua própria vida. Vida de baby não inclui a sofrenilda chorona de cara preta.
As noites são lentas. A lua não é cheia. Chove. A chuva vem pra arrasar o seu coração, traz aquela melancolia meio cinzinha. Você quer ir pra casa. Quer a sua cama. Seu quarto. Seu banheiro. Suas coisas. Seu baby. Sua vida. Essa não é você, é um clone muito mal feito. Você quer você de volta. Seus dias nas mãos. Mas a noite custa a passar.
Você quer a sua casa. Então você volta, abre a porta, larga as malas, pensa na sua viagem, nos dias contados. E você, novamente, chora. Desespero.
Cadê você?