Do avesso

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Roí as unhas. As dez unhas dos dez dedos das duas mãos. Roí as unhas e tirei o esmalte vinho que estava com duas camadas. E vi que só faço isso quando fico nervosa. Cada um tem sua neurose e as minhas são bem peculiares. Mexo sem parar na correntinha. Balanço o pé incessantemente. Meu coração dá saltos mortais. Minha garganta fecha as portas. O esôfago caminha num pé só. Quando gostamos muito de alguém, quando o sentimento é amor, quase-amor, semi-amor, novo-amor, eterno-amor, confuso-amor, ficamos vulneráveis. Basta uma palavra travada, um gesto freado, uma atitude impensada.
Você faz o que está ao seu alcance. Sabe que nem tudo é fácil, mas dá o seu jeito. Acredita que para tudo tem um jeito. Pode até não ser o certo, mas é um jeito. Aprendi que quando nosso jeito não funciona, é só trocar. Trocar para acertar-ou pelo menos tentar. E você tenta. Perde a linha. Faz confusão. Resolve arrumar as malas. Fica do avesso. Pensa melhor. Pega o avesso e muda o lado. Lava a louça que estava empilhada há três dias. Tira os lençóis. Coloca o sofá no lugar. Escreve umas cartas que não fazem o menor sentido. Toma mais um pouco de vinho. Resolve fazer o que a vida quer. Deixa tudo como está. Pensa. Repensa. Agita. Refaz.
Nada anda do jeito que você quer. Sentimento você tem. Discernimento está lhe faltando. Você procura no supermercado, na loja da esquina, dentro da bolsa: nada. Então você pensa: o que a vida quiser, ela faz. O que você quiser, você faz. E você-sim-faz o que quer. Por favor, vida, faça o resto. O avesso não é um bom lugar.
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