Naquele dia você sorriu para mim. Você sorriu um sorriso estranho e meu coração parou por um momento, depois recomeçou, depois parou de novo. Eu fiquei paralisada, escandalizada e entendi, sim, eu entendi: o amor bateu em mim, me atropelou, caí no chão. Estava na hora de levantar, talvez continuar a caminhar. Naquele dia em que você sorriu para mim eu me apaixonei, um universo de encantamento e êxtase me invadiu, me chacoalhou, me sacudiu. Sou sua, sou sua. Eu te amo, faça o que quiser com essa informação.
Naquele dia eu sorri para você. Eu sorri um sorriso encabulado e sua cabeça percorreu o meu corpo, seu olhar atento aos meus movimentos, gestos, movimentos, gestos. Você ficou tonto. Naquele dia em que eu sorri para você algo aconteceu aí dentro. Então você disse que me queria e me queria e me desejava e me esperaria até o fim. Você disse todas aquelas coisas bregas que os apaixonados falam. Você fez todas aquelas coisas tolas que os amantes fazem. É meu, é meu. Você me ama, vou fazer o que quiser com essa informação.
Por Deus, eu devia ter entendido! Às vezes o amor nos passa a perna, os sinais não são tão claros e nítidos e evidentes e coerentes e, Deus do céu, eu te amava e você só queria me comer. Você queria sexo, eu queria romance. Você queria palavras picantes, eu queria carinho. Nós quisemos coisas diferentes e eu cansei de falta de atenção e de afeto e de respeito e de tudo mais. Eu cansei de você.
Mandei você sumir, desaparecer da minha vida e você foi. Pensei que voltaria e diria que eu era a mulher da sua vida e tudo o que você quis. Mas não. Você voltou. Sim, você voltou. Você voltou e disse que não conseguia mais transar com ninguém. Ninguém lhe dava tanto tesão, ninguém lhe deixava tão excitado, ninguém fazia com que as suas cuecas ficassem tão molhadas. Você disse que só em me ver já sentia seu corpo começar a se modificar, sentia algo crescer aí dentro de você. Eu olhei para você com um misto de tristeza e excitação. Meu bem, eu queria amor e você me veio com papo de tesão. Me senti lisonjeada, mas eu quero amor, porra! E você? Você quer que eu sinta a sua porra. Tudo bem, vou dar o que você quer.
Vamos transar. Vou me vingar, você vai ver. Vamos nos encontrar na minha casa, estou ansiosa, com saudade, se é que você me entende...lembrei que nós nos encontrávamos aqui, eu me preocupava em fazer jantarzinhos e comprar vinhozinhos para você, enquanto isso você já devia chegar aqui pensando que tudo isso devia ser um saco, que porcaria de jantar é esse?!? Por que toda essa lenga-lenga? Vamos trepar! Pois dessa vez não terá jantar, não terá nada. Você vai ver.
Eu fiz uma preparação espetacular: tomei banho, passei esfoliante no corpo, hidratante, óleo, nunca passei tanta coisa. Nem eu me agüentava de tão cheirosa que eu estava. Depois do banho passei outro hidratante, que comprei em uma sex shop, e perfume. Pintei as unhas dos pés e das mãos de vermelho escuro, como você adorava. Me maquiei, batom vermelho-prostituta. Salto alto, estava frio aquele dia, mas coloquei uma sandália com tirinhas, salto agulha, 15 cm. Sutiã novo, preto. Calcinha nova, preta. Na frente...normal. Atrás...surpresa! Fio-dental total. Como estava frio: sobretudo preto, com pêlos na gola. Para dar uma animada, no som, Ben Harper. “Sexual Healing”, tudo a ver com a situação. Para dar uma calibrada, champagne. Incenso, lareira acesa, almofadas jogadas no chão.
Você foi pontual, chegou com um sorriso malicioso e eu pensando “que homem é esse?”, sim, eu me derreto com você. Você me arrasa, acaba comigo, pisa, maltrata e te amo por quê? Porque te amo tanto, eu pensava e repensava e minha cabeça começava a rodar e a minha língua estava meio adormecida por aquelas bolinhas gostosas do champagne. Ofereci para você uma taça, você aceitou e eu pensei: vou fazer o que deve ser feito. Entreguei a taça na sua mão, esperei você dar um gole e tirei o sobretudo. Comecei a dançar para você e senti as suas mãos na minha bunda. Puta que pariu, vou morrer. Não, vamos lá, seguindo o roteiro, não desanima, não pensa em amor. Sexo. Sexo, aqui vou eu. Tirei a sua roupa devagar, lentamente, senti você me pegando forte, mordendo o meu pescoço, meu coração acelerado, não vou resistir.
Sentei em cima de você e fiz tudo aquilo que sempre tive vergonha de fazer. Falei tudo aquilo que tinha receio ou pudor em falar. Trepei com você até você me pedir por favor, chega, não consigo mais. Você gozou muitas vezes, não vou negar que para mim foi o máximo, ótimo, fantástico, mas sei que você nunca mais esquecerá aquela noite. Depois que estávamos cansados, gozados e suados você colocou uma mecha do meu cabelo para trás e disse “amor, eu te amo”.
Chega. Terminou. Suas roupas estão aqui, pode ir embora, vou abrir a porta. Adeus. Pode ter certeza que foi um grande prazer.