Miniatura,
Quando eu tinha a tua idade pensava e me comportava exatamente dessa forma: era cheia de sonhos, tinha uma certeza (vinda sabe-se lá da onde) que era capaz de mudar o mundo, acreditava em tudo o que era belo, era briguenta e sensível. Não conseguia demonstrar direito o que eu sentia, mas nem por isso deixava de sentir. Era cheia de manias e ajudava todo mundo, tinha um certo dom para resolver problemas alheios. Ajeitava a vida dos outros em dois segundos, era fácil. E, em contrapartida, sentia uma sensação constante de "eu não sou daqui, pára o mundo, eu não sou desse lugar".
Cresci e, pequena, olha bem pra mim: mudei? Não, continuo a mesma. Mais velha, mais experiente, mas com os mesmos castelos de areia. Bestas? Não, eles são meus. Acredito neles. Para mim não são bestas. Os outros que se danem. Muitas vezes te avisei "cuidado, assim o sofrimento é maior". Sabe qual foi a tua resposta? "É melhor do que não sentir nada". Me dá um orgulho gigante a cada vez que te ouço dizer isso.
Talvez eu nunca tenha te dito, mas o elogio mais bonito que recebi na vida veio sabe de quem? Nunca vou esquecer um dia que era comum e normal, mas de alguma forma foi modificado-pra sempre-pelas tuas palavras. "Você tem o coração mais bonito que eu conheço, quero ser assim". Ou então "te admiro tanto, essa forma de sentir as coisas é tão bonita". Foi o maior e melhor elogio que alguém já me deu.
Até as nossas manias e defeitos tenebrosos são iguais. A única diferença é que eu como salada. Teve uma tarde em que eu te disse "não queira ser como eu, é difícil" e a resposta veio em seguida "mas eu quero". Pequena, acho que tá pra nascer uma pessoa que me admire mais do que tu. E te agradeço por isso.
Quando tu cresceres, tchê, não perde nunca a doçura, nem a capacidade de chorar com coisas simples, nem a ternura, nem a honestidade e firmeza de caráter. E, tenho certeza mais do que absoluta, serás alguém "grande". Apesar do mini-formato, para mim tu já és.
Um beijo carinhoso da irmã maior, que te xinga, mas te quer muito bem
Da série "Cartas guardadas atrás da estante".
