Levei um grande susto quando descobri que consegui, enfim, segurar a minha língua dentro da boca. Sempre me orgulhei muito por falar tudo o que eu penso, sem máscaras, sem jogos, sem dar a entender. Sutilezas pra quê? O bom mesmo é ser sincero, sair de peito aberto e dizer tudo o que surge no pensamento. Autenticidade. Palavra bonita e que traz de lambuja algumas olheiras três tons mais escuros que a pele.
Ei, era assim: eu sentia, eu falava. Eu falava, eu me estrepava. Por quê? É que eu tenho um jeito muito meu pra dizer o que penso (além de ter uma conexão direta do cérebro com a boca e um cabo que liga aquele maldito que faz tum-tum-tum por coisas sem fundamento com a boca também). Uso do humor, uso e abuso e ele tem diversas cores e formas. Vezes preto, vezes branco, vezes cinza. Hora cortante, hora ácido, hora bem docinho. Arma? Artifício? Personalidade? Nem sei dizer, mas faz parte de mim - da mesma maneira que as minhas sardas.
Vivo de maneira transparente, quando gosto me importo e quando desgosto fico na minha. Tem também o modo-ódio, mas esse não é muito legal de sentir, não recomendo. É que tem gente que pede pra levar cacetada e eu sou uma boa moça, pediu, levou. Essa coisa de eu-trato-como-me-trata não faz parte de mim. Sou implicante, mas não pago na mesma moeda. É sem sentido. Tudo que a gente faz tem que vir de dentro e, vou te dizer, conheço muito povinho que não tem nada dentro. Mas o próprio nada já é alguma coisa, então tá tudo certo. Fico com um terço de pena, pois o nada-alguma-coisa é tão pouco! Eu sou da teoria do tão muito. Não adianta, me conformei, me entreguei, é assim que funciona.
Sem saída, minha filha, sem saída. Não adianta querer controlar os sentidos, quando a garganta vai fechando as portas devagar, as pernas ficam molengas, você engole um tornado, mil bichinhos ficam dançando no estômago e você se sente com 13 anos é sinal de que não tem mais jeito.
Ou tem.
(mas isso eu não disse pra você)