Existe um lugar em que as palavras não dormem. Ele divide o espaço com a insônia, o cansaço, a falta de perspectiva, as imaginações sem freio. Nasci estressada, não descanso enquanto não resolvo um problema. Temos o poder de solucionar algumas coisas, outras jogamos nas mãos de Deus, de algum anjo, do universo, do que a gente acredita. Existe o desabafo com a nossa gente, mas por melhor que eles sejam não são nós. E quando a coisa é profunda você está sozinho. Acredito em muitas coisas e me impressiono com a nossa capacidade de mudar de idéia. Não faço promessas, nem análise, não freqüento a igreja. E me surpreendo comigo a todo instante. Diante de um problemão juro muitas coisas, penso em ligar pro ex-analista, me ajoelho no banco da igreja mais próxima e digo que se tudo for resolvido eu-vou-fazer. Vou sorrir mais para as pessoas na rua, vou procurar entender os outros, vou parar de fumar, de beber, vou daqui até a Bahia caminhando, vou ajudar os velhinhos a atravessar a rua, vou adotar sete cachorros, nunca mais vou brigar com o vizinho de baixo e não vou mais falar palavrão.
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Na hora do aperto, de alguma forma, eu-vou-me-transformar-em-outra-pessoa. É uma tentativa (quem sabe?) de ser outra para que o que está me afligindo troque de lugar, já que deixei-de-ser. Parece confuso, mas se você parar pra pensar vai ver que é assim que funciona. Fora isso tem o medo (sempre ele). Medo de não poder resolver, medo de tomar a decisão errada, medo de pensar. Temos medo de pensar no problema, de arregaçar as mangas e encarar de frente a vida - e o que vem junto com ela. Porque a vida nunca chega sozinha. Ela está sempre entrando e sentando sem ser convidada. E de vez em quando ela é muito, muito mal-educada. Traz convidados indesejados. Gente que não pede por favor e nem diz obrigado.
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Hoje eu tenho que usar palavrão, palavrinhas não me bastam. O melhor palavrão do mundo é muito obrigada, eu tenho uma sorte do caraleo. Na verdade eu tenho uma sorte do caralho mesmo. Sempre tive. E (obrigada, obrigada, obrigada) sempre terei. Nunca gostei de quem reclama demais da vida e se contenta com a reclamação. A vida é mais do que isso. Mesmo sendo mal-educada e trazendo gente de fora pra festa. Foda-se. Sempre vai ter um (ou mais) elemento mal-encarado. Não dá pra fugir dele, o negócio é ficar e mostrar a língua. Ele pode sair correndo por causa do susto. Ou ficar e rir da sua cara. Se isso acontecer o negócio é sair na porrada.
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(de vez em quando é preciso ser macha)
