Carta para quem sabe do que eu sei

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Coiso,
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Lembro como se fosse hoje o dia em que nós nos conhecemos, meu coração estava aflito. Nó no esôfago, formigamento na traquéia, uma mistura de sensações tão boas e tão estranhas que eu não sabia direito se eu queria ou não queria aquilo tudo. No instante em que você encostou o dedo na minha mão achei que meu coração iria parar de bater. Parar pra depois recomeçar, como se fosse novo. E foi o que aconteceu.
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Imaginei muitas coisas, tinha muitas teorias sobre o amor. Falava aos quatro ventos o que eu achava, filosofava a respeito, coitada de mim. Eu não sabia era nada. Nada divido por vinte e três multiplicado por treze. Meu coração estava meio cansado, eu estava no buraco da exaustão, amores bandidos dão muita dor de cabeça. Meus sentimentos estavam indispostos, sobrecarregados, com energia ruim. Quando te olhei pela primeira vez antes de te beijar pela primeira vez, presta atenção, eu sabia. Sabia que aquilo não era só um beijo e que não pararíamos no primeiro abraço. Da mesma forma que eu escrevo cartas em série, naquele dia começou uma série que foi dando espaço pra uma coisa que era uma emoção, um frio na barriga, um encantamento suave, que foi surgindo primeiro através de palavras, letras e frases e depois foi se transformando através de gestos, olhares, beijos na testa.
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A gente tem medo do desconhecido, não nego que tive muito medo. É óbvio que sim, ao contrário do que eu pensava (você sabe que penso sempre muitas coisas!) o amor pra mim era um estranho. Um estranho atrasado, com o óculos pendurado na camiseta, com o sorriso aberto e um olho que brilhava na noite. Um estranho que tinha a mão suave, a voz mansa e firme, um peito aconchegante e um beijo diferente de tudo o que eu já senti e tive notícia. Mas nunca pensei que aquele estranho, um dia, seria o amor da minha vida.
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Na verdade, meu amor, não sei se eu acreditava em amores da vida. Não sei se existe uma vida, mais de uma, cem ou mil; não sei nada disso, mas sei que existe você na minha vida. E sei que ela mudou depois que aquele estranho se apresentou e pegou a minha mão. E sei que ela é muito mais feliz a cada manhã em que eu acordo com aquele que um dia foi estranho e hoje é o que conhece cada tom de voz, cada suspiro, cada frase que eu vou dizer.
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Sei que agi de algumas maneiras que poderiam ter, se fosse outro qualquer, te afastado. Mas você ficou. Ficou e disse olha, não fica com medo, eu tô aqui, deixa que eu assusto o medo com os meus olhos verdes. E foi verdade, foi tudo verdade. Eu estava sentindo uma coisa tão boa que tinha medo, a gente tem medo do que é bom. É mais fácil quando os planos não dão certo e, sabe, eu não fiz planos com você. Tudo aconteceu naturalmente. Cada ligação, cada encontro, cada pequena demonstração. Natural, de dentro. Natural, da gente. Desde o primeiro dia fomos naturais, não fizemos como fazem os que querem impressionar. E nos impressionamos mesmo assim, sem artifícios. E isso nos uniu, nos fortaleceu, nos fez enxergar o outro como ele é realmente. E ainda assim amá-lo. E ainda assim te amo.
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Lembro da primeira vez que eu disse que te amava. Era noite, eu havia chegado em casa cansada e estava um pouco triste. Falamos por telefone, você ouviu toda a minha história (que era enorme), ouviu de um jeito atento, carinhoso, atencioso, prestando atenção. Senti, apesar de você estar do outro lado da linha, uma segurança tão grande, uma proteção, parecia que eu estava dentro do teu abraço. Fiquei mais leve, melhor; desligamos. Fechei os olhos e senti uma coisa quente dentro do peito. Eu amo esse cara, pensei. E te mandei uma mensagem no celular. Nunca vou esquecer aquela madrugada, você ligou, havia um choro emocionado na voz. Depois da primeira vez nunca mais parei de dizer. E vou repetir muitas vezes. E outras tantas. E quantas vezes a voz conseguir sair: eu te amo.
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Eu acreditava em príncipes encantados, mesmo depois de grande, mulher feita. Depois de pegar a contramão e entrar em ruas erradas diversas vezes parei um pouco de acreditar. Você apareceu. Muito melhor do que os de contos de fadas, filmes românticos e livros melosos. O melhor de todos, porque é meu. Porque é real. E porque é muito, muito amado. O amor da minha vida. Ou das que eu viver.
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Eu te amo, barbudo.
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* Da série Cartas guardadas atrás da estante. Quem me acompanha sabe que eu tenho a série de Cartas. Algumas estão aqui perdidas pelo blog, outras estão no site, na minha coluna que anda mais do que desatualizada. Se quiser saber mais é só dar uma pesquisada. Juro que no próximo texto tentarei não fazer rimas, isso já tá virando doença contagiosa.
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