Desculpa, não sei ser sexy. Na verdade nem sei direito o significado da palavra. Não, eu não nasci na Idade da Pedra. Existe uma diferença absurda entre sensualidade e vulgaridade. Atualmente a maior parte da população confunde os significados. E significantes, quem sabe?!? Tem gente que acha (e usa) saia-cinto sexy. Eu acho saia-cinto vulgar. Saia até a canela já atiça olhares e fiu-fius, imagina um cintinho preto? Tem gente que usa saia-cinto e blusa-sutiã e acha bonito. Eu acho que menos é mais. Se mostra as pernas não mostra o resto. Se mostra o resto não é necessário mostrar as pernas. Mas tem gente que acha bacana mostrar tudo. E o resto.
.
O mostra-mostra confunde e vira pescoços na rua. Falta um pouco de noção e pano nos corpos por aí. No mesmo saco do vulgar e sensual está o brega. Se você usa o que vou dizer no presente parágrafo, lamento, vou dizer assim mesmo. Acho brega calça jeans tô-quase-mostrando-a-periquita, marca de biquíni aparecendo, blusa afofando os peitos e fazendo os coitados darem saltos mortais. É um conjunto, fácil de achar pela noite e pelo dia de todas as cidades: água oxigenada 30 volumes, bronzeamento artificial, jeans jusssssssto e tô-quase-mostrando-a-dita-cuja, marca do biquíni (não uma marca qualquer, marca mínima pra mostrar que o biquíni era beeeeeem pequeno), blusa-salto-mortal-alguém-segura-que-estão-caindo. Ah, e barriga de fora. Eu acho uma breguice sem fim. E vulgar.
.
A sensualidade está lá dentro, bem como a vulgaridade. A diferença é que a sensualidade aparece na hora e na medida certa enquanto a vulgaridade entra e sai a todo instante. Por quê? Simples, é impossível arrumar um esconderijo pra ela. Quem é vulgar é vulgar e ponto. Não adianta rezar pra Santa Glorinha Kalil. Nem fazer curso de etiqueta por correspondência. Muito menos invocar o Mantra da Noção. Quem não tem fica sem. A vulgaridade está no gesto, na roupa, no comportamento, no jeito de andar, falar, ser, estar. Impossível se livrar ou safar-se dela.
.
Eu não sou vulgar, nem sensual, nem sexy. Não sei ser sexy. Sexy é a Angelina Jolie, ela nem precisa abrir a boca para atrair olhares de homens e despertar a admiração das mulheres (e a inveja também, vai ser bonita assim no Alasca!). De cabelo sujo ela é linda, com olheiras ela é linda, grávida ela estava linda, ao lado do Brad Pitt fica ainda mais linda, com bafo de manhã ele deve achar ela linda e eles devem dar aquele beijo de cinema, afinal, lá na tela ninguém tem bafo amanhecido, Colgate pra quê?. Com ramela-remela-nunca-sei-como-escreve-isso-sei-que-é-um-nojinho ela é linda. De calça de abrigo rasgada e camiseta manchada ela deve ser linda. Se eu apareço assim na janela devem pensar que sou a diarista, a faxineira ou a babá do cachorro. Já ela é poderosa de qualquer jeito.
.
Outro dia disseram que eu era um mulherão. Valeu, obrigada. Mas não sou mulherão não. Tudo bem, meu pé não é de Cinderela chinesa. Também não sou anã de jardim. Mulherão é a Pamela Anderson, não sou gostosona que nem ela. Na verdade eu vou contar um segredo: não sei ser assim. Tem gente que usa cinta-liga, espartilho, lingerie de renda francesa. Acho tudo muito bonito, muito estiloso, muito sensual, muito nada-a-minha-cara. Renda me dá alergia, fico toda embolotada, juro. Gosto de calcinha de algodão. De preferência aquelas mais velhinhas, sabe? Que já têm toda uma geração de bolinhas que vêm de brinde quando a roupa é lavada na máquina. Gosto também daquelas com desenhos e frases, tipo "be happy". Com bonequinha e glitter. Por isso não sou mulherão, mulherão não faz isso. E eu tenho cara de criança, voz de criança. E gosto de coisa que criança gosta, inclusive de fazer arte.
.
Essa coisa de baby doll também não é comigo. Prefiro pijama de algodão, olha ele aí de novo. Pijamas coloridos de quem esqueceu de crescer. Ursinho, florzinha, frutinha. Falando em urso, lembrei de outra coisa. Fantasia de empregadinha, coelhinha, zebrinha, oncinha, enfermeira, avestruzinha e todo o zôológico, me desculpa, não é comigo. Nada disso é comigo. Eu me sentiria ridícula vestindo um pedaço do zôo. Além disso não tenho a menor vocação pra Macaca Chita.
.
E o chicotinho? Máscara de Tiazinha e chicotinho, tem gente que usa, tá? Cada um faz o que bem entende, mas não gosto. Não é comigo. Minha frase do dia: não é comigo. Acho que se algum dia eu fizer um strip vou ter uma síncope. É evidente que não vou conseguir me concentrar e vou cair na gargalhada. Não sei fazer cara de sou-mulher-fatal-vamp-gostosa-e-abalo-bangu. Essas caras e bocas acho que ficam bem nas atrizes de filme pornô. E só. Fora da tela adivinha? Não é comigo.
.
Gosto de coisa rosa e meus pijamas são meio furados, explico o motivo: adoro ficar de pijama, acho uma coisa realmente deliciosa. Uso, uso, uso, vou usando e gosto de alguns específicos. Uma hora fura. E é a coisa mais confortável do mundo. Tem homem que gosta de transar com a mulher de salto alto. De novo, Cinderela. Vou contar uma coisa: há algum tempo atrás eu era uma perua muito chata. Pra ir na padaria eu ia de salto, pra comprar a ração do peixe eu ia de bota. Me maquiava todo o santo dia. Um saco. Eu era um pé no saco. Um dia encontrei a luz. Na verdade um dia Alá fez cair um all star na minha cabeça, experimentei, gostei, não tirei. É a coisa mais confortável que já inventaram. Tenho de várias cores, é bom, obrigada, os dedinhos agradecem comovidos. Maquiagem todos os dias envelhece a pele mais cedo e você sabe: uma pele de vinte e sete anos não é mais tão macia e saudável quanto uma de vinte e seis. As coisas mudam, as pessoas idem. Ainda bem, bendita luz!
.
Não sei ser sexy, não sei falar palavras picantes, não sei fazer aquele olho-uhu-que-tesão, não sei usar vestido sem calcinha e cruzar as pernas num ato instintivo selvagerístico como a Dona Stone. Desculpa. Acho muito forçado aqueles gritos, gemidos, sussurros; tudo o que beira o exagero é simplesmente exagero. Tem que fluir naturalmente. Sem acrobacias e performances no estilo Dona Saint, mesmo porque a profissional é ela, não eu. Não sei ser sexy, sei ser eu. Sem chicotinho.
