Uma arte, de Elizabeth Bishop
Tradução de Horácio Costa
.
.
"A arte de perder não tarda aprender; tantas coisas parecem feitas com o moldeda perda que o perdê-las não traz desastre. Perca algo a cada dia. Aceita o sustode perder chaves, e a hora passada embalde.
.
A arte de perder não tarda aprender. Pratica perder mais rápido mil coisas mais:lugares, nomes, onde pensaste de férias ir. Nenhuma perda trará desastre. Perdi o relógio de minha mãe. A última, ou a penúltima, de minhas casas queridas foi-se. Não tarda aprender, a arte de perder.
.
Perdi duas cidades, eram deliciosas. E, pior, alguns reinos que tive, dois rios, um continente. Sinto sua falta, nenhum desastre.
.
- Mesmo perder-te a ti (a voz que ria, um ente amado), mentir não posso. É evidente: a arte de perder muito não tarda aprender, embora a perda - escreva tudo! - lembre desastre."