Novos olhares

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(Porque quando existe um sentimento forte todo o resto se torna profundo, inclusive o que antes passava batido)



Ando emotiva, tenho falado em lágrimas. Insisto, perceba, que não são lágrimas ruins. Mas ando emotiva, emotiva, emotiva. Descubro, através de intensas reflexões solitárias, que não ando, corro ou pulo, eu sou. Movida por coisas sem nome, cor ou definição, apesar de gostar de coloridices, de batizar palavras, de viver inventando expressões ou coisa parecida. Mais do que uma fase, a palavra emotiva traz consigo um significado que ultrapassa definições exatas de dicionários, afinal, quer palavra menos exata do que essa?


São três as coisas que mais gosto na vida: cinema, livro e abraço. Eu gosto até de filme ruim, desde que seja filme, não sei se você me entende. Livro ruim eu desisto no meio, mas logo pego outro, não perco a esperança de encontrar bons livros. E eles existem, aos montes. Todo mundo tem um livro preferido e o famoso filme-da-vida. Qual é o da sua? O da minha é cheio de abraços (e que sejam sinceros, por favor!). Estou um pouco cansada da falta de verdade, daquele sorriso-obrigatório-social-aterrorizante-e-burocrático, vamos, você precisa ir e sorrir e fingir que tudo está bem e muito bem e tudo bem, pois você adora aquele lugar, seja ele qual for, seja você quem for eu repito: não faça isso, não entre nesse barco todo remendado que é o social-obrigatório-tenho-que-ir-e-dar-abracinhos-moles, não está nada bem, não. Não!, você tem que abraçar com gosto, aperto, vontade, tem que sentir o corpo do outro, cada mudança de temperatura, cada alteração, alternação, cada pêlo, marca, sinal, mancha, cicatriz, hematoma, corte, arranhão. Sentir o cheiro de perfume, desodorante, cheiro de passado, de sono, de cansaço, de fé, de lembranças, cheiro de cerveja, de amaciante Fofo, cheiro de molho de tomate, de cigarro, de shampoo, de gel no cabelo, cheiro de vida que está renovada, estragada ou revoltada, mas viva. Viva, no sentido amplo e infinito da palavra.


Você pode estar num momento difícil, de transição, de perder-se em si mesmo, de fazer projeções e transferências de maneira inadequada, você pode estar em alfa, zen, em um dia nervoso, patético, calmo, em um dia comum, em um dia cheio de novidades, você pode estar passando por um momento mais difícil do que o da primeira linha, uma fase de achar-se em si mesmo, largar-se na vida, momento egoísta, intimista, altruísta, nazista, todos os istas estão lá, esperando você decidir que momento é este, qual momento será o próximo? Independente de tudo, tempo, situação, ganho, perda ou até mesmo alucinação, não consigo perder a capacidade de ser emotiva. Não, não pense que é sempre bom, não sou a-toda-boa, a toda alegre o tempo todo, a toda amorosa constantemente. Eu sou estranha, tenho gestos e pensamentos e encanações e neuras e filosofias viajantes e temperamento salgado e toda uma série de e's que não consigo ajustar aqui, agora, pra você, talvez por não saber ajustá-los nem pra mim. Mas deixa isso tudo pra lá, eu e a minha estranhice, estranheza, estranhagem, estranhamento, estranhação. Estranha ação. É isso aí, sou cheia de estranhas ações. Uma delas é tentar explicar o sentido de uma coisa que nem sentido faz. Vou tentar de novo.


Ando emotiva, é isso que tento dizer pra você. Um filme que conta a história de um casal e ele morre e ela fica sozinha e com as memórias e com a falta do gosto do beijo dele e com a ausência nos braços, ao invés daqueles abraços acolhedores que a protegiam de tudo e dela mesma. Um livro cujo tema é a história de um indivíduo que tinha um amor perdido, queria encontrá-lo de todos os jeitos, nada, nada adianta quando o amor se perdeu entre as linhas. Uma mulher que tem um blog e que perdeu o marido e estava grávida e meu deus, ela teve o filho sozinha e o amor todo, todo aquele amor guardado no peito e a promessa de dias unidos, eles, os três, tudo por água abaixo. Agora você dirá: toda a mulher chora em filme de mulherzinha, em histórias de amor e em casos assim. Agora eu lhe digo: não. Antes eu chorava, chorava de achar bonito, chorava de me arrepiar, de pensar nossa-que-coisa-linda. E no fundo, lá no meu fundo mais fundo eu pensava nossa-como-o-amor-é-um-troço-lindo. Bem mais pro fundo do meu fundo eu tinha uma certa inveja. Inveja do Desconhecido. Porque hoje eu conheço essas coisas todas, o amor e tudo que o envolve, embala, contém, abriga. Hoje eu sei, sei muita coisa que antes não sabia. E o meu saber faz com que eu me emocione por entender o que essas pessoas sentem no instante em que há a liberdade de entrega. O amor é entrega, o amor pleno e de verdade é entrega pura e limpa, de tudo. No meio do meu saber tudo o que antes, pra mim, era coisa de filme e livro e blog e bonitezas em geral, no meio disso tudo fica o entendimento absoluto e total do que é amar uma pessoa. E fica, também, um gosto triste de imaginar que, talvez, de repente, um dia ou uma noite, a vida ou os acontecimentos, façam com que eu perca você. Ou que você se perca de mim. Ou que a gente se perca um do outro.


Ando emotiva. O amor, aquele amor que virou Conhecido e bem passado e que chegou com alguns minutos e anos de atraso e se tornou claro e limpo e tudo e, especialmente, essencialmente e principalmente livre, aquele amor é o que faz com que eu veja tudo com outros olhos. Uns olhos que, em certas ocasiões, são ligeiramente assustados, pois a gente tem medo de perder a nossa parte mais bonita.


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