Et-phone-home

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Sei que hoje em dia o mundo é moderno, as pessoas são modernas e tudo é resolvido na base da modernidade. Repeteco de palavras? Eu sei. É que não me sinto encaixada nesse universo modernoso. Definitivamente sou antiga, do tempo do portão, saudosa época em que não existia funk, nem salto alto para meninas de oito anos.
As crianças do meu tempo (o primeiro sinal de velhice surge quando usamos essa expressão) pulavam amarelinha, brincavam de esconde-esconde e bem depois, muito depois - lá pelos doze, treze anos - freqüentavam as famosas reuniões dançantes (bailinhos de garagem). As meninas ficavam num canto, os meninos no outro e aí tocava a música lenta e o povo dançava juntinho. Sempre sobrava um, era o sem-sorte que dançava com uma vassoura, trocava a música, ele passava a vassoura adiante e assim seguia a noite. Sem beijos na boca, todo mundo tomando guaraná e indo embora até – no máximo dos máximos - meia-noite e trinta.

Os pequenos de hoje em dia assistem cenas de sexo quase explícito na “novela das oito”, ouvem músicas com letras inadequadas e não existe mais bailinho de garagem, pra quê? É coisa de criança. Com dez anos eles beijam na boca, alguns até já experimentaram algum tipo de droga. E eu me pergunto: o que está havendo?

Moralista? Conservadora? Sou tudo isso e mais um muito. Inverno, frio danado: mulheres de micro-micro-saia e blusa mostrando um pulmão inteirinho. Por quê? Precisa disso? Aprendi desde cedo que menos é mais. Não tem necessidade de sair desse jeito na rua, aliás, se essa é a única coisa que você pode oferecer...vá em frente. Mas tudo tem uma conseqüência. Pra mim mulher que se veste desse jeito com um frio de rachar é biscate. A típica biscate está bronzeada (autobronzeador, bronzeamento artificial, de vez em quando um tom alaranjado assustador) em todas as estações do ano. E sente um calor estilo tô-entrando-na-menopausa mesmo estando cinco graus abaixo de zero. Gosta de raves, modismos, funk e assemelhados. Odeio funk. Odeio rave. Odeio modismos. Gosto de gente original, que é o que é sem pudores. Simples assim. E se você for o diferente? Ótimo. É muito ruim ser igual a todo mundo.

Conheço gente que beija um, beija outro. Dorme com fulano na terça e com o beltrano na quarta. Tudo liberado, estamos em 2007, não é verdade? Não, não é verdade. Acho o fim da picada. Primeiro, acho nojento sair beijando qualquer boca. Você não sabe quem é a pessoa, quais são os rituais de higiene, da onde vem aquele indivíduo. Pode ser o rei da bonitolândia, e daí? Pra mim é estranho: olhou, gostou, beijou. Não funciono assim. Transar com qualquer pessoa? Pior ainda. O cara pode ser um psicopata, maníaco, tarado, pervertido e mais um zilhão de coisas. Não acontece só em filme não, vida real, meus senhores, vida muito real.

Falando em uhu-tudo-liberado, qual o problema se uma pessoa é virgem hoje em dia? Nenhum. A pessoa não é débil mental: pensa, sente, quer e faz tudo o que os outros fazem - inclusive tem fantasias eróticas, lê e assiste a filmes sobre o assunto-, menos sexo. Não tem nada a ver com religião, nem promessa, nem com “é só depois do casamento, meu bem”. Simplesmente tem gente que acha que só se faz amor, não sexo. E amor, bem, amor não se faz com qualquer um. Dizem até que você pode viver uma vida inteirinha sem encontrar o seu amor. Pode pensar que achou, se distrair com amores paraguaios, mas o original mesmo é único, insubstituível e...difícil de ser achado.

“Em amor não há definitivo. Assim como não há conquistas definitivas, também não há derrotas irremediáveis. Quem perdeu ontem, pode ganhar hoje; e quem ganhou ontem, se não tomar cuidado, perde hoje.”
(Nelson Rodrigues)

Tudo bem, as minhas teorias não fazem parte do senso comum, pois não tenho o mesmo comportamento dos demais. Na verdade nunca tive e sempre me senti muito bem por isso. Gosto de discordar e duvidar até mesmo de mim. Por via das dúvidas tenho pensado em fechar um pouco os olhos e fingir que é tudo muito natural. Talvez assim eu não me sinta um ET o tempo inteiro...
* escrito em 16 de novembro de 2007.
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