Alguns dizem que é vestir um terno Armani, outros que é usar o kit por - favor - com - licença - obrigado. Muita gente aposta no perfume francês, no carro com banco de couro, na bolsa Prada, no sapato de couro de jacaré, na taça de Veuve Clicquot. Afinal, o que é ser elegante hoje em dia?
Elegância, pra mim, nada tem a ver com o fato do seu whisky ter 8, 12, 24 anos (por sinal, nem sei exatamente esse negócio do envelhecimento). Pouco importa se o seu jaguar vermelho encerado é super potente. Conheço muito homem elegante que usa calça jeans e tênis surrado. Da mesma forma conheço pessoas extremamente refinadas, que se vestem de forma impecável e são um poço de grossura. Tem gente que sorri delicadamente, enquanto outros gargalham mostrando as amígdalas. Uns são meigos, articulados e distribuem sorrisos; já outros falam alto, atropelam as palavras e pra arrancar um sorriso só chamando o bobo da corte. O fato é que pessoas são absolutamente diferentes e a elegância em si nada tem a ver com classe econômica, posição social e derivados. Não confunda elegância com educação ou centímetros do salto. Vai além. Muito além.
Ser elegante é saber o seu espaço no mundo, ter consciência de que a sua liberdade acaba no momento em que a do outro passa por aquela linha. É respeitar as outras pessoas como elas são. É saber ouvir, dialogar, ser justo, honesto. É falar a verdade, viver com verdade e deitar a cabeça no travesseiro (pouco importa se é de pena de ganso ou aqueles com espuma gasta) e saber que você não deve nada pra ninguém, que seu nome não está sujo na praça e que você fez algo em favor de outra pessoa pelo simples prazer de ajudar. Existe coisa melhor do que andar na rua e dar um sorriso de graça?
Existem pessoas pequenas, vazias, interesseiras, manipuladoras, medíocres. Essas, definitivamente, não são elegantes. Podem morar num apartamento de luxo, usar um modelito Chanel e ter uma mansão em Montreal. Podem circular com políticos, galãs, astros do rock e ter a conta bancária gorda. Ter berço não é sinônimo de elegância. Alguém que lutou muito pra subir na vida e hoje vive bem, obrigada, pode não ser nadinha elegante. A elegância não tem preço. Aula de etiqueta não resolve. Quem gosta de picuinha e intriga não é elegante. Quem se acha superior também não. Quem pensa que é o dono da verdade idem. Quem se aproxima de alguém pra tirar algum proveito ou ganhar vantagem...hã hã.
"Eu vejo um novo começo de era
De gente fina elegante e sincera
Com habilidade
Pra dizer mais sim do que não..."
(Lulu Santos)
Não é lendo a Vogue que você se tornará chique, pode apostar. Nem precisa tirar o seu cartão de crédito do bolso pra mostrar que pode comprar tudo. Algumas coisas vêm de dentro pra fora. Elegante é aquele que não joga na cara o que fez por você ontem. É aquele que tem o coração livre de impurezas. Que guarda segredos. Que deixa o orgulho de lado. Que olha nos olhos sem se sentir acuado. Que não fala mal hoje e amanhã está dando tapinha nas costas. Elegante é quem diz o que sente apenas quando sente. Não existe nada mais deselegante do que falar “eu também” só pra ser educado. Se gosta, gosta. Se não gosta, não gosta. Seja claro e direto, afinal, a sinceridade é irmã gêmea da elegância.
*escrito em 30 de novembro de 2007