Não importa se a culpa é da mídia ou da Gisele Bündchen, o certo é que as pessoas buscam o inatingível, aquela perfeição que só é encontrada na tela da televisão. Lógico, a maquiagem é boa, o cabeleireiro está de plantão, esteticista idem e o personal stylist logo ali, oh.
Ah, eu estava esquecendo: além de tudo tem aquele efeito que eu não faço idéia do nome, mas é o efeito-todo-mundo-é-lindo-na-tv. E nas revistas? Photoshop, obrigada por existir! Mulher nenhuma tem celulite na Playboy, já percebeu? Muito menos estria, sinal, pinta, olheira, marca de vacina, pêlo encravado e ponta dupla no cabelo. Bem-vindo ao mundo perfeito, pode entrar e puxar uma cadeira. O verão está chegando e você será constantemente bombardeado por imagens de corpos esculturais -e dourados - em propagandas, novelas, revistas. A mídia te massacra: tem que ser sarado, bronzeado e feliz.
"Gosto de um modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão."
Clarice Lispector
Desde que me conheço por gente sou branquela e quando tomo sol fico entre duas cores: vermelho-pimentão e vermelho-tomate-gaúcho. Tenho sardas e fico parecida com um morango, ou seja, pareço tudo que tenha um tom avermelhado. E o bronze? Não existe, pois meu tom de pele é claro e ponto final. Sempre achei o meu derrière acentuado e já fiz de tudo: duzentas e vinte e sete horas de malhação; além das dietas da sopa, da lua, do sol, dos líquidos azuis e a que a vizinha ensinou (isso sem falar nas simpatias). Nada resolveu, a maldita bunda continua ali ocupando espaço. Resolvi sossegar e aceitar a (inconveniente) companhia dela numa boa, sem traumas, neuras e encanações.
Não sou e nunca serei perfeita, assim como você. Gosto de várias coisas em mim e desgosto de outras tantas, não falo só de aparência, corpo, beleza. Falo do geral. Não vou entrar no assunto “o que importa é o que a gente tem dentro” porque não concordo. Beleza é importante sim! É o que aproxima as pessoas. Importa o que tem dentro? Óbvio, evidente, não adianta a pessoa ser linda e ter um caráter duvidoso ou possuir a beleza de um deus grego e ser um grande filho da mãe. Assim como também não adianta nada ser uma pessoa doce, educada, inteligente, amorosa e por fora se assemelhar a um urubu manco e estrábico. Tem que haver um equilíbrio, mas acho que ficar levantando essa bandeira do “o importante é o que se tem dentro” é muita hipocrisia.
Voltando ao ponto, acho abominável homens sarados. Não gosto. Sabe aqueles caras que usam camisetinha colada, têm uma cacetada de músculos, fazem o maior tipo sou-o-gostoso-do-pedaço? Pois é, odeio. Nas academias têm um monte deles. São aqueles que, entre um exercício e outro, param na frente do espelho e ficam fazendo poses estranhas, levantam as camisetas e ficam se admirando. Obrigada, eu dispenso barriga tanquinho. É bonito de olhar? Até é. A barriga do Brad Pitt é bem bonitinha mesmo.
Mas quer saber? Uma barriguinha tem o seu valor. Pra começar, ela é imperfeita. O que é certinho demais parece qualquer obra de arte exposta no Louvre. Barriga é um diferencial, além de ter as suas vantagens. Deitar a cabeça para assistir a um filme numa barriga-tanque é muito ruim. A barriguinha é boa, gostosa, fofinha, dispensa almofadas e dá um charme especial ao dono.
Entre um abdômen definido e uma mini-montanha (mini, hein? barriga - o - bebê - tá - quase - nascendo - já - é - exagero) eu fico com a segunda opção. O que para uns soa como defeito para mim é atrativo. Estranho? Pode ser, mas já ouvi casos de taras por pescoços, testas, orelhas , pés...e por aí vai. No meu caso nem é tara, depende do cara. De qualquer forma fica uma sugestão: barrigudinhos, por favor, façam exercício físico para manter a saúde em dia, mas continuem tomando o santo chopp de cada final de tarde. Não sejam iguais aos bonitões de Hollywood, nós vivemos no mundo real e vocês têm o que eles não possuem: barriga que dá pra brincar de gangorra.
Tim-Tim!
* texto escrito em 23 de outubro de 2007.