O senhor sabe (posso chamar de você? senhor fica meio formal e não gosto de formalidades, o senhor - epa, de novo! - você sabe que gosto de sentar no chão, andar de pés descalços e todas essas coisas não-formais-desfrescuradas) que não sou uma pessoa que se contagia pelo espírito natalino. Também não espero chegar o final do ano para dizer ei, me desculpa; ei, eu te amo; ei, vou ser uma pessoa melhor. Tento ser uma pessoa melhor o tempo inteiro, raramente consigo, mas não desisto nunca. Acredito que vou conseguir um dia, da mesma forma que acredito no poder da mente. Da mesma maneira que acho que o Omo lava mais branco e que o Renew realmente suaviza as marcas de expressão.
Sei que todo mundo escreve para pedir. Um pede bicicleta, outro pede uma boneca. Ai, desculpa, isso era no meu tempo. Hoje em dia nem sei o que as crianças pedem, mas aposto que não são coisas inocentes como bicicleta e boneca. Tem mulher que pede anel de diamantes para o marido. Tem marido que pede uma Ferrari para a mulher. Tem filha que pede um apartamento para o pai. Tem filho que pede uma viagem para a Austrália. Sei que os pedidos variam em tamanho, valor, forma, cor. Sei que a condição sócio-ecomônica-cultural influencia nos pedidos. Sei que a sua saúde também está em jogo, afinal, é difícil carregar certos presentes pesados dentro do saco. Imagina se cai alguma coisa na sua cabeça enquando o senhor entra pela chaminé. Epa, é você. E nós dois sabemos que aquela roupa vermelha junto com aquela barba e aquele gorro devem dar um calorão! Vou dar uma conversadinha com o Ronaldo Fraga ou com o Ricardo Almeida, de repente eles fazem uns modelitos primavera-verão para você (deixa comigo!). Enquanto isso, quero fazer um pedido. É, vou junto com a maré: todo mundo pede, vou pedir também. Quero um repeteco de 2008!
Explico. Há exatamente um ano eu estava triste. Passei o Natal com meu pai, somente nós dois. Combinamos que nada de peru, nada de cantoria natalina, nada de nada. Foi uma noite como outra qualquer, jantamos, estava bom, mas eu estava triste. A minha família estava despedaçada, por motivos que não importam agora. Não quero encher os seus ouvidos com as minhas lamúrias. Papai Noel, foi difícil pra mim. Achei, em alguns momentos, que eu não suportaria algumas coisas. Coisas que eu soube, coisas que vivi. Coisas bem difíceis de digerir, entender e aceitar. Papai Noel, eu chorei no Natal passado. E em muitos outros dias. E no Ano Novo também. Comecei 2008 decepcionada, com medo, cheia de mágoa e muitas feridas. Permaneci assim algum tempo. Meu travesseiro foi o meu melhor amigo, lá eu me sentia segura, ouvida, abraçada. Papai Noel, eu cresci. Cresci tanto que nem sei explicar. Entendi algumas coisas da vida. Compreendi que pai e mãe não são heróis, são gente, carne e osso, falham e sim, podem nos machucar através de atos ou palavras. Papai Noel, eu entendi. Entendi que a vida nem sempre é castelo, alegria, beleza. De vez em quando a vida é feia, é nosso dever pegar tinta e colocar cor. Papai Noel, eu pintei a minha vida. E resolvi que aquela menina que tinha medo de trovão ia ficar frente a frente com o temporal. Papai Noel, eu tive muito medo. Papai Noel, eu me senti sozinha. Papai Noel, eu descobri com quem posso contar. Papai Noel, descobri que a minha melhor amiga sou eu mesma. E é assim que tem que ser.
Em fevereiro tudo começou a fazer sentido, algumas peças se encaixaram. Em março eu ganhei um amor pequeno. Pequeno, careca, que chorava de fome, que precisava ter a fralda trocada. Só quem é tia entende um amor assim. É um amor pleno, de dentro, que é forte e imbatível. Em março eu ganhei um amor grande. O amor da minha vida, aquele que muita gente busca, cata, procura. Aquele que muita gente não acha. Aquele que muita gente nasce, cresce, se reproduz e morre e nem chega a conhecer. Aquele que me deu mão, braço, perna, abraço, coração, tudo. Papai Noel, em março eu ganhei muito.
Ao longo do ano eu tive muitas conquistas. Finalmente concluí o meu livro que, você sabe, está na gaveta por alguns motivos. Não é tão fácil alguém querer publicar a gente. E agora eu ando meio sem tempo para pensar em publicações. Papai Noel, eu concluí um livro, comecei outro e acabei escrevendo um livro infantil. É, tá tudo na gaveta, mas tá. O que importa é estar. E eles estão. Em 2009, quem sabe, eles não saltam da gaveta para a prateleira?
Papai Noel, em 2008 eu ganhei alguns amigos. Amigos queridos, amigos sinceros, gente que sabe se doar. Em 2008 eu aprendi que não é pra todo mundo que a gente pode ser a gente mesmo. É preciso vezenquando usar um escudo, somos humanos, carecemos de esconderijos.
Finalmente eu terminei a faculdade, Papai Noel. Eu sei, você não me aguentava mais com este assunto. Nem eu me aguentava. Circulei pelo Direito, pela Psicologia e, finalmente, me encontrei. Posso dizer que foi muito bom, aprendi demais, tive excelentes professores, fiz boas e fiéis amizades. Finalmente resolvi que era hora de trabalhar. E finalmente comecei. Foi o ano do finalmente. Acho que eu descobri o que é ser, enfim, gente grande. Eu tinha um medo danado disso. Medo de ter um relacionamento sério, medo de virar tia, medo de me formar, medo de pensar em sair de casa, medo de me desligar de alguns eus, medo de descobrir novos eus, medo de remendar eus antigos, medo de trabalhar, medo de deixar de ser mocinha e passar a ser mulher.
Papai Noel, eu era a Rainha do Medo. Eu morria de medo. Não que ele tenha ido embora, mas é bem menor. Papai Noel, eu cresci. Sei disso. Me assustava muito o crescer, agora, confesso, não me assusta mais. Sei que são etapas da vida, preciso passar por elas. Papai Noel, não quero deixar de gostar de balanço, de desenho, de coisinhas fofas, apeluciadas e cheirosas. Nem de rosa.
Em 2008 ganhei muito. Sei que nem chegamos na última semana do ano, estou antecipada. É que sou organizada, você sabe. Mas quero dizer que vou sentir saudade deste ano. E o meu pedido é um bis. Quero tudo de bom, de novo, que aconteceu em 2008. De formas diferentes, eu sei. E quero agradecer por tudo o que eu aprendi, tudo o que conquistei, tudo o que ganhei. Eu tinha muito receio de andar em círculos, ficar trancafiada em labirintos. Foi um ano de libertação. Eu estava perdida, numa rua escura, sem amigos, dinheiro, telefone, sapatos, casaco, barulho. Obrigada por ter feito com que eu me encontrasse. Quero agradecer por ter me conhecido, me descoberto. Por ter me ganhado.
Um beijo, Papai Noel. Até o próximo ano. Tenho certeza que ele vai ser tão bom quanto este. No mais, o de sempre: amor, saúde e muita paz para todas as pessoas que me cercam, todos os que eu gosto, todos os que eu amo, todos que lêem o meu blog, todos que me mandam e-mails carinhosos, todos que torcem por mim, todos que direta ou indiretamente me mandam energias coloridas.