Para Francisco

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Sempre fui de me emocionar com coisas simples. Uma frase, um cartão, uma palavra qualquer. Um gesto, às vezes até mesmo um jeito diferente de sorrir. Sabe, pouca coisa diz muito. Não me venha com grandiosidades, quero o pequeno, ele vira multidão.


Um dia, passeando pela internet, achei um blog. O nome é o título do meu texto e eu achei bonito, simples. Talvez o nome do blog tenha chamado a minha atenção por motivos pessoais. O nome do meu namorado é Francisco e ele, conto agora pra você, é o amor da minha vida. Mas descobri que existe um outro Francisco importante para uma outra mulher. Mais do que isso: a outra mulher é realmente uma guerreira, faz jus ao nome que tem.


Cristiana Guerra. O Francisco dela é um Francisco filho, mas não deixa de ser um Francisco amor da vida. Talvez amor de filho seja o mais puro e sem linhas tracejadas. É um amor reto, completo, inteiro. Por que eu estou falando tudo isso pra você? Vou explicar o motivo pelo qual o blog da Cristiana me deixa assim, pensativa, flutuante, reflexiva e emocionada.


Ela já tinha sido casada e teve dois abortos. Não pensava mais em ter filho. Não sabia que iria se apaixonar de novo, e se apaixonou. Teve um amor lindo. Estava feliz. Parecia coisa de filme americano. Tudo em ordem, tudo em paz. Bem no trabalho, bem na vida pessoal. A vida dela podia ser invejada, de tão em ordem que estava. Você sabe que nem sempre a vida fica organizada. De vez em quando estamos bem em um setor, logo em seguida alguma lei que inventaram ataca e diz: agora você vai ter um problema ali. E o problema surge. Ouvi dizer que quando alguma coisa vai bem sempre acontece uma pra deixar não tão bem assim, talvez pra que você não fique mal acostumado. Em outras palavras: você não pode ter tudo todo o tempo. Mas a Cristiana, até então, podia. Pra completar a felicidade dela, engravidou. Não apenas ficou grávida, mas ficou grávida do homem da vida dela. Eles ficaram felizes com a notícia. E os planos começaram a aparecer. Não foi uma gravidez planejada, mas certamente foi uma gravidez feliz. Até o dia em que o pai do Francisco morreu. Morreu, simplesmente. Morreu e deixou a Cristiana grávida, dois meses antes do nascimento do pequeno Francisco. Ela podia ter perdido o bebê, podia ter perdido a fé que restava, podia ter se revoltado com o mundo, podia ter chorado até o final dos dias, podia ter se atirado da primeira ponte. Mas ela decidiu tomar conta de si mesma. E do filho. E da vida que eles, em breve, teriam. O Francisco nasceu saudável, bonito e a Cristiana cria o filho sozinha. Ao invés de ficar em casa lamentando a morte do pai do filho, ela decidiu escrever. Não apenas escrever, mas escrever bem bonito. Escrever pro Francisco, para contar tudo, para falar do pai dele, para falar dela, para falar da vida, de sonho, de lágrima, de abraço que restou, de amor que não foi embora, pra falar da vida, do que é viver depois que a gente perde quem amou, quem ama e quem amará pra sempre.


O blog dela não é mórbido, triste, nem pesado, pelo contrário, é vivo, feliz. Ela não é uma amargurada que perdeu um amor, é uma mãe que quer dizer para o filho como o pai é uma pessoa inesquecível. Ela quer lembrar para ela mesma que pode e deve seguir em frente, que nem sempre será fácil, mas que ela precisa todos os dias levantar, abrir a janela, abraçar o filho e pensar que o mundo é mais alegre depois da vinda dele. Ela precisa segurar a própria onda quando a saudade enforca e deixa sem ar e a lembrança esperneia dizendo que era para ele estar ali, era para ser um trio, só que do trio restam apenas dois. Mas o pai do Francisco vai sempre existir. Sempre. No coração da Cristiana, no olhar do filho, no passado, no presente, no futuro, porque o amor precisa ser regado para sobreviver. E isso a Cristiana faz bem. Tão bem que do blog nasceu um livro. Para Francisco. Para ele não esquecer que a mãe é uma mulher forte e admirável. Para ele lembrar que o pai, mesmo estando no céu, continua a sorrir para ele. E que, apesar de ausente na vida dele, sempre existirá. Para Francisco.


Momento-eu-recomendo: dá uma passada no blog da Cristiana, o endereço é http://parafrancisco.blogspot.com


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Momento me emocionei: sublinhei todo o livro da Cris. Todo, todinho. Li bem devagar, engolindo cada palavra, abraçando cada verso, beijando cada sentimento que ali estava vivo. Este foi um dos livros que mais lentamente li, não queria perder nenhum pedaço. Era tanta emoção que não cabia, não se ajustava dentro das páginas. E eu fiquei sem lugar pra mim. Tocante, mesmo. Li para Francisco, o meu, mas não conseguia terminar um dos textos. A voz vinha cheia de lágrimas, não uma coisa triste, uma coisa doce. Um gosto que ficou dentro de mim mesmo depois do livro já ter ido pra estante.




* texto de 1 de novembro de 2008.
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