Hoje em dia as pessoas não têm tempo. Se alimentam mal, dormem mal, se relacionam mal, vivem mal. É culpa de quem? O mundo te exige, te cobra, faça isso, faça aquilo, seja assim, seja assado. E você corre, se vira em mil e tenta se adequar aos tais padrões. Bom profissional, bom amigo, bom amante, bom irmão, boa pessoa. Dá um trabalho ser bom para todo mundo. Agora espere e reveja a sua vida: você está sendo bom com você mesmo?
Você não pára. Corre atrás do mais. Mais dinheiro, reconhecimento, sucesso, afirmação. E a paz? E a tranqüilidade? E as boas noites de sono? E os planos de fazer ioga? E aquela viagem para Portugal? Os planos vão sendo adiados, o stress diário atropela todos os seus desejos que estavam escritos em uma listinha - cujo lugar você nem mais lembra onde está. No meio disso, cadê você? Pergunto: cadê você de verdade?
Eu sempre fui orgulhosa, mas quer saber? É perda de energia. Não é feio pedir ajuda, não é vergonhoso dizer olha, eu estou precisando. Não pense que é sinal de fraqueza ou medo, pelo contrário, acho até bonito. As pessoas não adivinham que temos problemas. No corre-corre ninguém pára para pensar no seu sorriso de lado, no seu olhar distante ou no seu tom de voz cabisbaixo. E, de repente, se você ensaia falar alguma coisa, outro vem e chega antes de você. Num surto de pessimismo, você pensa que não dá para se abrir com ninguém. Dá, dá sim. A primeira pessoa que você deve enfrentar e encarar de frente é você mesmo.
As pessoas não têm culpa dos nossos problemas, nem elas, nem o mundo, por isso não desconte em terceiros, quartos e quintos. O mundo não pode se responsabilizar por algo que te pertence. Não espere compreensão dos outros, se refugie, primeiro, em você mesmo. Quando você se aflige com um problema, tenta solucionar e a tal coisa, além de não se resolver, se multiplica, a tendência é o desespero. Então você busca alguém amigo, em quem confia. E, muitas vezes, esse alguém está ocupado demais com a própria vida. Quem já não sentiu raiva do mundo, dos outros e, pode contar para mim, da felicidade alheia? Quem já não pensou “todo mundo se dá bem, menos eu”?
Você busca um lugar seguro para, quem sabe, entender a sua vida. E eu digo que o lugar mais seguro é você mesmo. Se você acreditar que pode mudar o rumo das coisas, se fizer força para isso, se conseguir manter a calma, respirar fundo e entender que algumas coisas dependem de você e outras não, você não naufraga. E mais: só convide para entrar no seu barco quem realmente gosta de você. Esse que entrar, pode apostar, mesmo enjoado com o balanço do mar vai continuar ali. Até o fim.
* texto escrito em 4 de março de 2008.