Prevendo o futuro

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Não sou a toda - poderosa - dona - da - verdade, muito menos a fada - mágica - dos - ensinamentos. Meus super poderes falham, minha intuição volta e meia tropeça, me embolo com tantas vontades. Minhas previsões deixam a desejar, não sou mãe de santo, guru ou vidente, mas tenho uma grande revelação para fazer: todas as pessoas, cedo ou tarde, te magoarão.

Desculpa, talvez eu esteja pegando pesado demais, vou explicar a minha linha de raciocínio e pode ser que aí você me compreenda. Eu sou diferente de você e você é diferente do seu irmão que é diferente do seu primo que é diferente do seu melhor amigo de aula de piano. Entendeu o ponto? Ninguém é igual a ninguém. Aposto que você fez uma careta tremenda e pensou “essa babaca tá escrevendo a coisa mais batida do mundo”. Pois é, talvez eu seja mesmo uma babaca. A questão é que a tal coisa batida não é claramente entendida e bem resolvida dentro de cada criatura que habita esse planeta.


Existe um problema grave de comunicação entre dois indivíduos: você tem medo de se expor e o outro não se explica direito. Você entende errado e o outro está mais preocupado com o jogo na televisão do que em sentar e conversar. O trabalho e os contratempos do dia-a-dia fazem com que as pessoas se fechem em um universo particular e isso cria uma barreira transparente na volta de cada um. Pode ser proteção, uma certa reserva ou mesmo covardia. Ninguém é perfeito. Outra frase prontinha e de efeito. Por que, inconscientemente, exigimos perfeição? Por que, inconscientemente, queremos que fulano tome tal atitude?


É interessante como vivemos em busca de algo que nunca passará disso mesmo: busca. Vamos atrás de um ideal de perfeição que jamais será alcançado. Projetamos pessoas, nos colocamos no lugar do outro e pensamos “ele devia ter feito assim”. Por quê? Porque você faria assim. E então você se magoa. E essa mágoa se expande. E se transforma em micro-mágoas que vão juntando com micro-fatos que foram criados por você mesmo. Nossa mente é um poço que possui um imã. As informações e sensações vão somando, multiplicando e grudando. O bom senso serve justamente pra isso: pra separar o que é válido do que é lixo. E como juntamos lixo! Acumulamos tragédias e já nem sabemos o que nos pertence ou o que foi tirado de algum livro. Mas o outro vai te magoar. Por dar ou deixar de dar um abraço, cartão, beijo, colo, afago, bronca, o coração. Você vai magoar o outro pelos mesmos motivos. Pai, mãe, irmão, amigo, vizinho, irmã, parente, amiga. Em algum momento você terá uma decepção.


Se nós temos a capacidade de, sem querer, magoar quem mais amamos, acredito que podemos aprender a perdoar. Não é fácil. Acho que perdoar é uma das coisas mais difíceis que já inventaram por aí. Não estou falando do perdão da boca pra fora. Falo daquele perdão verdadeiro, te perdôo e tá tudo certo, a gente não toca mais no assunto, eu supero, não te jogo na cara e não espalho pra ninguém a meleca que você fez e que eu, por bondade, resolvi dar chance e perdoar. Entenda, a “chance” nem é para o outro. É pra você mesmo. Acho nobre quem consegue perdoar e realmente deixar pra trás. Não digo que dá pra esquecer, de vez em quando a m* é tão gigante que é impossível ser esquecida, mas dá pra deixar num canto qualquer bem escondida. Quem perdoa de verdade não alfineta, nem fica atiçando, maltratando. E quem pede perdão é igualmente nobre. Não estou falando do pedido da boca pra fora. Falo do pedido verdadeiro, me perdoa, por favor, fiz uma cagada absurda, fui uma sem vergonha do caramba e me arrependi amargamente.


Humildade. Taí a palavra-chave e magnânima: humildade. Falta humildade pra assumir erros, reconhecer deslizes, perdoar com os olhos, alma, coração. Falta humildade pra entender e aceitar que todo o ser humano falha, enfia o pé na jaca e tem o direito de começar de novo.
Promova um encontro entre o seu barulho e o seu silêncio. Entre seu lado mendigo e rei. Todos nós possuímos o luxo e o lixo.

* texto de 7 de dezembro de 2007.

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