Existe uma palavra chamada significado. E existe o significado da palavra significado, se é que você me entende. Tem gente que sai falando coisas que nem sabe ao certo o que significam. Pior do que isso: acham bonito usar termos, expressões e sacadinhas que todo-mundo-usa, só pra não ficar por fora. Prefiro ficar por fora ou de fora seja lá da onde for e ser eu mesma do que ficar indo pro lugar que todo mundo vai. Parecem um bando de vacas, ovelhas, éguas e pra não ficar só no feminino, bois, cavalos e sei-lá-qual-bicho-mais que vão seguindo um caminho sem a menor opção de olhar pra trás ou voltar alguns passos. Deprimente.
Hoje em dia o bacana é mostrar que é moderno. Olha, eu sou modernosa, tenho uma relação aberta com o meu namorado, gosto de homens e mulheres, ele gosta de mulheres e homens e a gente transa com um bando de outras gentes, comemos fora dia sim e dia não. O melhor de tudo é que não rola ciúme e nem competição, não é uma disputa estilo eu-faço-mais-sacanagens-que-você, a gente é cúmplice, a gente conta cada trepadinha fora, a nossa trepadinha fora é chamada pelos caretas de pulada-de-cerca. Somos modernos e não rola essa coisa toda de traição, a nossa relação é livre e sem cobranças e saímos com os outros a hora em que quisermos. Fora isso, sou super tatuada, tenho piercings do pé até o mamilo, A Mulher Piercingzada. Por isso, chamo a atenção em qualquer lugar, faço a linha descolada-mulher-moderna-que-diz-para-os-outros-eu-sou-uma-contradição. Já reparou como as pessoas a.m.a.m falar isso? Eu sou uma contradição! Até parece que ser uma contradição é legal. Tudo bem que eu troco muito de idéia (ou melhor: ideia sem acento - de acordo com a nova ortografia - que chegou para dificultar a minha vida), mas nem tanto a ponto de sair tagarelando que sou uma contradição. Espera um pouquinho: mudanças são sinal de evolução. Ainda bem que a gente muda, evolui, cresce, amadurece. E troca de ideia, ora bolas!
Pra mim uma relação funciona a dois. Sem terceiros, quintos e sextos. A dois no quarto, apenas. Onde já se viu namorar uma pessoa e conseguir beijar e abraçar e fazer carinho e dar pra outra? Ok, se o mundo é pautado no sexo: onde já se viu dizer que ama uma pessoa, namorar com ela e transar com outra? Não entendo. Se alguém tem um tipo de relação assim, me explique, me escreva, faça um desenho bonito. Na minha cabeça, sinceramente, não entra esse gênero de coisa. E tem mais: ou você gosta de homem ou gosta de mulher. Gostar dos dois acho estranho demais, sabe por quê? É impossível gostar do mesmo jeito dos dois. Se é impossível, isso quer dizer que você gosta mais de um. Se você gosta mais de um, fique com este um e seja feliz. Mas não venha com o papo modernoso de que é bi. Bi uma pinóia! Não sou moderna. Gosto de homem. E, ainda por cima, só do meu. Sem essa de namoro aberto. Sem essa de sexo com outros. Sem essa de flertezinho barato, só porque todo mundo faz. O que importa é o que você faz.
É um peso demais o outro carregar a sua verdade ou até mesmo a sua mentira. É desumano jogar em cima do outro expectativas, frustrações. Fazemos isso a todo instante, de muitas formas. Eu sou a dona das minhas verdades e mentiras e traumas e aplausos e vaias e tudo mais que faz parte de mim. Eu sou a dona do não-modernismo e da caretice. Eu sou tão dona, mas tão dona das minhas palavras que de vez em quando pago caro por elas. Sou doníssima das minhas opiniões e não raro me estrepo por isso. Mas quer saber? É bom ser assim. E de vez em quando é ruim também. No fundo, ainda bem, descubro que não sou uma contradição. Sei o que quero e o que não quero pra mim. E mais: sei exatamente o que isso significa.