Juro que não é birra. Adoro fazer arrumações, jogar miudezas imprestáveis fora, abrir espaço e energia para o novo. Apesar disso, tenho uma visão retrô e um certo apego quando trato de alguns assuntos. Existe o particular, o só nosso, o que queremos levar mofado e com traças e o resto que se exploda, precisam aceitar a minha cabeça-durice em guardar velharias e cacarecos que para nada têm serventia. Não gosto de nada que é imposto, tampouco de me sentir obrigada a. E foi o que aconteceu.
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Entenda que fui alfabetizada aos seis anos de idade, lá se vão vinte e dois anos. Faz vinte e dois anos que escrevo do mesmo modo, ainda bem que a minha letra melhorou um pouquinho, ficou mais legível. O vinil foi trocado pelo cd. O disquete pelo pen drive. O walkman pelo iPod. O cabelo com permanente pelo liso-chapinha. O loiro estilo-rainha-dos-baixinhos pelas mechas californianas. O videocassete pelo dvd. Como você percebe tivemos diversas evoluções tecnológicas. Mas não entendo por qual motivo querem me obrigar a virar uma pedreira do português.
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A tal reforma ortográfica está deixando a vida de muita gente de pernas pro ar. Como vou mudar de uma hora pra outra tudo o que aprendi? Eu adoro hífen! Tenho uma simpatia tremenda por tremas. Odeio regras. O que vai ser de mim? É difícil escrever meioambiente sem hífen, parece que fica errado. Errado é o que eu acho, certo é reformar a casa. Eu sei que ainda tem tempo, cursinhos já surgiram, todos os dias aparece um novo livro ou manual, os dicionários estão sendo modificados, blá blá blá. Alguém tá ganhando um dinheirão com tudo isso, e esse alguém não sou eu, definitivamente.
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Imprimi um Guia Prático da Nova Ortografia, me perdi inteira, descobri que preciso lembrar de algumas regrinhas aprendidas lá na escola pra poder entender e me adaptar ao novo mundo que me espera. O pior é que tem gente que dá o nome de Acordo Ortográfico. Acordo, pelo que eu sei, é quando as partes envolvidas dizem sim. Ninguém perguntou se eu queria. Olha que coisa mais feia (feia vem de feiura, agora sem acento) zoo, veem, perdoo, leem, doo, deem, creem, abençoo. E a trema? Frequente, delinquente, sequestro, cinquenta. E o acento nos ditongos abertos "éi" e "ói" das palavras paroxítonas? Ficou feio de doer: alcateia, apoia, colmeia, claraboia, boia. Ai, vou chorar.
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Não tenho tempo para ficar estudando as novas regras, minha cabeça ainda não memorizou nem 5% das informações e sinceramente eu revelo que não farei o menor esforço para tal. O que tiver que grudar na cabeça, que grude. Não vou mover uma palha. Não vou passar noites em claro. Não vou gastar dinheiro em livros. Não perderei tempo procurando pra ver se tal coisa está correta. O máximo que vou fazer é usar um conversor, é o que tenho feito na agência. Se eu escrever "errado" aqui, me perdoem. Estou fazendo o que eu posso. Espero que até 2012 eu consiga.