Não adianta, não entendo. Já me esforcei para compreender significantes e significados, a diferença entre ser e estar, patati patatá. Na teoria, como sempre, tudo pode ter uma explicação, mas nem todas podem ser classificadas no grupo Aceitáveis e/ou Entendíveis. Que homens e mulheres têm comportamentos e encaram a vida de formas diferentes nós sabemos (será mesmo?). O problema é que não adianta, não entendo.
Outro dia um amigo chegou em tom confidencial "estou pensando em procurar outra mulher". Observe: quando ele diz outra é porque já tem uma. O enrosco já começa aí. Ele vai além quando confessa "eu gosto de putaria, ela não, só que eu gosto muito dela, quero ficar junto". Minha primeira reação foi de espanto, minha segunda reação foi igual a primeira e depois de gastar o Estoque Espantoso, respirei fundo e perguntei como pode alguém gostar de uma pessoa e co gi tar traí-la, minha gente? Eu gosto de rosa e meu namorado de verde e só porque eu gosto de rosa e ele de verde não vou simplesmente deixar de conversar sobre cores com ele. A gente pode desfilar na Mangueira e fica tudo certo. Se você gosta de alguém você respeita, acima de tudo, essa pessoa. Para mim é isso, bem simples, sem firulas e o resto nem me interessa discutir. Tentei conversar com ele, sugeri que ele fosse franco com a namorada, afinal, cada um tem um ritmo, preferência, jeito, gosto. Tudo é conversável e ajeitável, basta querer. E descobri: as pessoas gostam de caminhos fáceis. No caso dele o caminho fácil é chamar uma profissional do sexo ou encontrar uma aspirante ao meretrício nas baladas da vida. Ninguém troca telefone ou, pensando bem, se for boa a coisa pode rolar a troca sim, vá que ambos queiram um repeteco? Depois, lavou tá novo, volta para os braços de quem gosta. Bico calado evita sofrimento desnecessário ou, o medo dos medos, um grande pé com unhas feitas no traseiro.
Ele ainda tentou me explicar que nem adiantaria conversar com a namorada, pois "tem coisa que ela não topa". Então tá. Penso claro: se ela não topa, se ele está insatisfeito, que separe. Se ele gosta mesmo, que respeite, que cheguem num acordo limpo. Só não venha tentar me convencer que comer em outra freguesia é a solução. Dia desses, de boca aberta, ouvi um comentário - masculino, evidente - que me deixou pensativa: "eu olho mesmo, melhor só olhar do que fazer!". Ah, é assim? Mulher tem que agradecer quando homem não faz nada? Mulher tem que achar bacana o indivíduo só olhar? A gente tem que ficar de joelhos e rezar uma Ave Maria porque a homarada só olha, não encosta? Fico boba com esse machismo decadente! Não tem que olhar, muito menos fazer. Se é pra ficar olhando pra qualquer sirigaita na rua é melhor ficar solteiro então, é o que eu penso. Eu não olho para outros homens na rua, confesso. Não tenho interesse, de verdade. Mas os homens, ah, os homens são os homens, tá no sangue, é cultural, todo homem faz. Revoltante.
Desculpa te desiludir, minha amiga, mas o seu marido-namorido-noivo-noivorido-namorado-ficante-rolo-casinho tem uma coleção de revista de mulher pelada, tipo Playboy, Sexy e outras bem mais baixinhas. Os homens têm grupos de putaria via e-mail, eles têm uma lista dos que recebem a Putaria do Dia. Não pense que é coisa leve e suave: mulheres peladas beijando e chupando e se esfregando em outras mulheres igualmente peladas, casais transando de todos os jeitos possíveis, gente gemendo, gritando, berrando. Fotos, vídeos, fotos e vídeos. Ao serem questionados, respondem: putaria é entretenimento, mais nada. Uhum, sei. Ainda existe o Sensual Light, que são aqueles sites com as gostosas de biquíni, lingerie, coisa light porque, segundo eles, o máximo que aparece é um peitinho ou uma bundinha. Depois, quando deitam a cabeça no travesseiro, imaginam a Tesuda da Capa e aí, só Deus sabe. Existem, também, os filmes, que eles assistem e fazem sabe-se lá o quê. Eles, adolescentes de quinze anos, se masturbam vendo mulher de calcinha e sutiã. Eles, os homens feitos, fazem exatamente a mesma coisa. Talvez eles não cresçam nunca (ou sim, a gente sabe quando). É bom conhecer o próprio corpo e descobrir o que dá prazer, sabemos que sim. Minha ginecologista dizia que é saudável "explorar o corpo". Em outras palavras: é importante homens baterem punheta e mulheres siririca. Mas nós não crescemos com pilhas de revistas de homens com o Mr. P marcando presença. Sei que os universos são distintos. O universo pornô é, fatalmente, masculino, tudo é destinado aos homens. Só não me peçam pra achar natural, pois eu não sinto o menor tesão vendo um homem - que não seja o meu - pelado ou de cueca. Sim, eu sei que as coisas são diferentes. Não gosto da desculpa todo-homem-é-assim, pois se são mesmo todos assim a qualquer momento eu e todas as mulheres comprometidas com os seus podem levar um belo par de chifres. Diz a lenda que homem trai, certo? Chega uma hora, um tempo, um segundo, que o tal instinto fala mais alto e eles precisam comer uma bruschetta em outro restaurante.
O pior são as mulheres machistas. Certa ocasião uma amiga disse que não tinha ciúme de mulheres de revistas, essas que se pelam ou ficam em trajes quase inexistentes por uma graninha razoável. Ela falou que tinha ciúme da mulherada "real", aquelas que o namorado podia "pegar". Só que ela não se deu conta que o namorado pode estar bem ao lado dela, pegando-a inclusive, e com a cabeça em alguma mulherona. Adianta? As pessoas têm que estar por inteiro, é o que penso. Não é querer coordenar pensamento, pensamento e imaginação são livres, leves e soltos. Mas até lá tem que haver respeito, senão nada feito. Bom, sempre gostei de ver o lado mais fotogênico da vida, prefiro continuar na ingenuidade. E já que eles dizem que ver mulher pelada (para os homens) tem o mesmo significado da fofoca (para as mulheres), tudo bem, eu me rendo. Eles alegam que são visuais, que é tudo insignificante, passageiro, prazeres momentâneos, apenas um prazer estético. Tudo bem, por enquanto a gente finge que acredita. E ainda aproveita pra fazer uma fofoquinha básica. Deles, é claro.