Adoro flores. A beleza me envolve, o cheiro me agrada, a ocasião - que mesmo sem ter ocasião acaba virando - me emociona. Muitos esperam datas especiais para convidar as flores para um passeio. Outros pensam que não existe motivo especial para dar uma flor. Acho preconceito dizer que só as mulheres recebem flores. Já mandei flores para homens e todos, todos sem exceção, amaram (tudo bem, não foram tantos assim). Amigos, não-amigos, não importa. Homens que um dia ganharam flores de uma mulher. Alguns, eu bem sei, se gabaram. Coisa de gente, gente se gaba por tudo, seja gente homem ou gente mulher.
Hoje no almoço o papo era beleza. Homens e mulheres bonitos, o mundo está cheio deles. E as mulheres, infelizmente constato, estão cada vez mais recalcadas. Invejam o casamento, o corpo, o rosto, os cabelos, as unhas, a conta bancária, o carro, o homem da quase próxima. Os homens só invejam a grana e, de repente, o tamanho da bunda da mulher do bem próximo. As mulheres querem mais, são alucinadas pelo verbo querer. Não que eu não queira, eu quero. Esteticamente falando: sou feliz com o que tenho, obrigada pai e mãe, não mudaria nada. Sou feliz com a minha inexistente cor. Sou feliz com os meus cabelos, apesar de achá-los fininhos demais, cabelo de bebê. Eles podiam não ser ondulados, mas tudo bem. Acho a Angelina Jolie linda, vi umas fotos da família dela hoje, Brad e as crianças, belos e felizes, família Doriana, Becel, família Delícia. Se eu invejo a bocuda? Não, acho ela maravilhosa, mas tô bem vestida de Clarissa. Se eu gostaria de mudar algo? Ah, eu queria ter o corpo da Sabrina Sato, ela tem um corpaço. Se acho ela uma filha da puta por isso? Não, não acho. Já soltei um "filha da puta", mas foi de brincadeira, acho um recalque sem fim quem fica com dor de cotovelo quando vê uma mulher bonita. Assume que é bonita. Assume que é gostosa. Assume que é rica. Assume que. E assume, também, que essas mulheres que aparecem na televisão e nas revistas dedicam muito tempo de suas vidas - e muito dinheiro - em prol da beleza. Ou você acha que o corpo sarado da Miss Sato vem de batata frita, cerveja, sorvete e bunda no sofá? Nananinanana. Então seja coerente. Ah, e se respeite também. Eu entrei na academia, de novo, Sabrina Sato é a minha meta. Mas nós temos estruturas diferentes, é óbvio. De repente eu chego lá.
Por que falei disso? O papo é beleza, flores são belas, entendeu a conexão? Qual o destino das pessoas belas? A morte, junto com as feias e as mais ou menos. Qual o destino das flores? Saco de lixo, junto com restos de comida e guardanapos sujos. Eu sei que estou sendo cruel e fria, mas pense comigo: o que importa afinal de contas é aproveitar o momento. Ouvi uma frase horrível "detesto que o meu namorado me dê flores, não tem motivo pra gastar dinheiro com isso". Respeito quem não gosta de flores, assim como respeito quem gosta de loiros. Só não respeito indelicadeza, pois olhar para a cara do namorado e mandar ele "parar de gastar dinheiro com isso" é o fim do romantismo e da sensibilidade. Se é por isso termine o namoro, pare de perder tempo com isso, use o tempo para rezar ajoelhada em algum templo ou fazer tricô para ajudar as criancinhas na próxima Campanha do Agasalho.
Adoro flores, apesar de saber que elas têm um ciclo: agradam, alegram, embelezam, murcham, morrem, são jogadas fora. Mantém o ambiente bonito por pouco tempo. E nós, perecíveis? Apesar do esforço botoxal, sei não. Somos perecíveis, apodrecemos com o tempo. Tenho pena - muita pena, friso bem - de gente que já nasceu podre. Sigo adorando flores do mesmo jeito que sigo adorando pessoas. Preciso aprender que certas pessoas não merecem destaque na nossa vida, em contrapartida as flores sempre merecerão o melhor lugar na nossa varanda.
"Não lembro de ninguém assim tão à flor de si mesmo."
(Caio Fernando Abreu)