Você já deve ter ouvido falar que o mundo gira e a vida dá voltas. Não gosto de ficar repetindo frases lá do tempo dá minha avó, mas tô brega. Tenho outros defeitos também: conto nos dedos até hoje. E não sei, não sei mesmo, raiz quadrada. Sabe aquela coisa de genética, de calcular a probabilidade do teu filho nascer de olhos claros, sendo que o teu pai e a tua avó paterna têm olhos claros e o futuro-pai-da-cria também? Pois é, não sei. Não sei plantar bananeira nem fazer aquele trocinho com a língua, deixar ela enrolada. Ah, eu não sei um monte de coisa e nem ligo. Porque o mundo gira e a vida dá muitas, muitas voltas.
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Não gostava de almoçar sozinha, inclusive um dos primeiros textos que escrevi, texto assim de publicar em blog, foi sobre isso. Sei lá, na minha cabeça as pessoas pensavam olha-que-coitada-ela-tá-sozinha. Bobagem a minha, eu sei. Eu era bem boba mesmo, acordava às seis da matina pra fazer um make e escova no cabelo. Usava um saltão no paralelepípedo (amo essa palavra!) da Unisinos, minha universidade querida que me acompanhou por muito, muito tempo. Já falei muito disso, às vezes me sinto uma personagem de mim mesma, assim, com muitas caras, jeitos, humores e tudo mais. O silêncio me incomodava, por isso eu vivia ouvindo música, com MSN ligado, sempre conectada no mundo e desconectada de mim. Mas a gente cresce, cresce. Apanha um pouco, pois faz parte do processo. Sofri muitos. Tudo muito, minha vida intensa e hiperbólica. Ela não cabe nela mesma, nem em mim. É extensa, um pouco pretensiosa, presunçosa, cheia de vaidades acumuladas. Mas é minha. Demorei pra perceber isso, a vida é minha, é tão bom quando a nossa vida é nossa e só nossa e a gente tem poder e domínio total com o que faz, pensa e planeja. Então eu descobri que almoçar sozinha é bom. O silêncio é revelador. O MSN desligado é produtivo. A música no pause em alguns momentos se torna essencial. Tão essencial quanto respirar. A própria companhia, a minha, cheia de tsunamis, é boa mesmo quando é ruim. Vá entender...
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Faz um ano. Exatamente um ano que a vida me mostrou que dá voltas. Eu descobri o que queria pra mim e quando eu descobri isso, descobri tudo. Percebi que me queria muito e pra sempre e, a partir daí, conheci uma pessoa que mudou a minha vida. Na verdade foram duas: meu sobrinho e meu amor. Dois mocinhos bonitos que me enchem de encanto com o pequeno. Porque o simples pra mim sempre foi que nem oxigênio. Hoje meu sobrinho faz um ano. Hoje finalmente eu pego o meu diploma. Hoje faltam três dias pro Grande Dia. Hoje eu adoro o que faço. Hoje eu sei que meu livro vai sair em breve, mais breve do que eu penso porque eu acredito. Hoje eu sei que acreditar é mágico. Hoje eu queria abraçar todas as pessoas importantes pra mim. Hoje eu sei que nem sempre a gente vai saber tudo. Hoje eu vejo que nem sempre eu tô certa. Hoje eu entendo que nem sempre a coisa vai sair boa da primeira vez e não tem problema algum nisso. Hoje eu sei que eu não preciso ter medo de ser adulta, isso não vai afastar meu lado criança. Hoje eu sei o que é o amor. Hoje eu amo a propaganda. Hoje eu percebo que realmente não sei lidar com gente burra. Hoje eu sinto os efeitos do tempo. Hoje eu tenho certeza de que quando eu fico uns dias sem escrever meu humor fica pavoroso. Hoje eu nem sempre tenho saco pra brincadeirinha boba. Hoje eu só sorrio quando tenho vontade. Hoje eu me dou o direito de ficar quieta. Hoje eu não tenho mais medo de dormir no meu quarto. Hoje eu sei muitas coisas que antes eu não conseguia ver. E hoje eu sei que quanto mais eu olhar pra frente, mais eu vou entender.