Eu nunca deixei de acreditar em bobagens

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A novela das oito me deixa aflita com tanto atchá-tik-are-baba-tchalom-firangui-estrangeira-lamparinas-do-juízo-apagadas-cérebro-congelado. Eu acho graça dos costumes, dancinhas e expressões que eles usam (e logo tratam de traduzir) e, principalmente, da Índia que mostram. Nada do que está presente na novela condiz com a realidade. Para eles, ver um gato branco ao sair de casa é um péssimo sinal. Isso me fez pensar nas coisas que acredito e que, para alguns, pode ser pura bobagem (como a maior parte do que tem em Caminho das Índias é para mim).


Gatos pretos me dão sorte, sempre. Juro que quando vejo um, pronto, algo de maravilhoso acontece na minha vida. Não gosto de chinelo e pantufa virados de cabeça para baixo, me dão agonia tremenda. Não deixo a minha bolsa no chão. Superstições à parte, também não deixo recado em secretária eletrônica, me sinto mal falando com quem não emite som algum. Odeio ouvir correio de voz, por isso se me ligar não deixe. Noções básicas de educação e elegância: se você ligou para alguém uma vez e a pessoa não atendeu, não ligue duas, três ou quatro vezes. Pode ser pura bobagem, mas por mais que seja importantíssimo eu só ligo uma vez. Todos os celulares têm identificador de chamadas, o vivente verá que eu liguei e me retornará assim que possível. Se é urgente-urgentíssimo o máximo que faço é mandar uma mensagem de texto com algo do tipo "favor me ligar em três segundos que estou quase morrendo". Estava passando casualmente por um salão de beleza e na vitrine tinha um shampoo com a promessa de fazer o cabelo crescer quatro centímetros por mês. Comprei no ato, sei que parece embromation, mas vá que seja eficaz?


Nos filmes românticos, enquanto toca Just the way you are (um amigo diz que isso é música de motel, eu adoro o Barry White, com licença), a vida do casal passa em flashes, a mulher joga o cabelo para trás em câ-me-ra len-ta, ele pega uma mecha de cabelo dela e coloca atrás da orelha, faz um breve carinho na nuca e ela fecha os olhos, ele fecha os olhos, as bocas vão indo e indo e quase se encontram e continuam indo, quando tudo isso acontece eu juro que devia ter um cara me filmando. Juro jurado. Um meio sorriso serelepe escapa da minha boca, minha cabeça vai indo e indo pro lado que nem a da moça da cena e o meu coração suspira, dá pulinhos e cantarolo mentalmente "I don't imagine you're too familiar and I don't see you anymore...". E ainda me embalo no sofá. E se tiver almofadinhas na volta, abraço e faço uma cena de colocar Shirley Maclaine no chinelo (eu adoro a Shirley).


Sempre fui de inventar romances, para mim e para os outros. Digo para quem quiser ouvir (ou me contratar): eu seria uma cafetina de alto nível, não tem nada mais gostoso do que juntar casais. Coisa bem boa ver o povo feliz e com a pele rejuvenescida. Cenas românticas sempre me encantaram. É claro que precisa ter um teatrinho, alguma lágrima, reencontros, o casal se separa, a mocinha decide viajar, quando uma relação termina a mulher sempre corta o cabelo ou vai viajar para esquecer, já percebeu? O cara se joga no trabalho e na birita. Fica o legítimo Galã da Sarjeta. Então o relacionamento termina, ela arruma as malas e diz vou-sair-da-sua-vida, escreve uma carta contando o quanto está infeliz e amargurada com o fim de tudo, deixa embaixo da porta da casa dele, vai para o aeroporto, nada dele aparecer, ela se desespera e pensa ele-não-me-quer-mais-e-na-carta-eu-dizia-que-queria-ele-de-volta, ela funga, decide entrar na sala de embarque e bem nessa hora acontece. Pausa dramática. Ele chega, olhos vermelhos, meu-amor-eu-te-amo, o cabelo bagunçado por ter corrido até o aeroporto, afinal, o pneu furou, não tinha táxi, ele pegou carona numa kombi antiga e um senhor de bigode dirigia lentamente e ele disse deixa-que-eu-vou-mais-rápido. Isso, ele chegou na hora. Reconciliação. Amor eterno, vamos-ser-felizes-para-sempre. "I said I love you and that's forever and this I promise from my heart...hum hum hum". The end.


Pode rir. Ria. Mas ria muito. Dê gargalhadas. Desde pequena tenho fascinação por finais felizes. Aquele amor que passa por provações, adversidades, separações. Deve ser por isso que para mim foi difícil lidar com um amor seguro, tranquilo. Nossas famílias não são rivais, ele não tinha namorada antes, eu não tinha namorado antes, ninguém traiu ninguém, a gente se conheceu, tudo aconteceu devagar e sem sobressaltos, foi natural, foi encantador, foi simples e eu sentia aquilo estranho. É por isso que no começo (e confesso que ainda tenho recaídas) eu criava qualquer probleminha barato só para fazer um Amor Shirley Maclaine. Então eu entendi que não preciso disso para viver. Posso fazer um Amor Clarissa Corrêa e tá tudo bem assim. Tudo bem pra mim, pra ele e pro amor em si. Não precisa andar de montanha-russa e sair gritando. Não precisa bater porta, falar alto, rasgar foto, carta, cartão e bilhete. Não precisa brigar pra ter reconciliação. Não precisa passar noites em claro chorando. Não precisa apertar contra o peito uma foto amarelada e sentir as lágrimas inundarem a vida. Não precisa revolta nem briga. Não precisa ser dançarina daqueles que cantam "Entre tapas e beijos" (Leandro e Leonardo?). Mesmo porque, obrigada maturidade, o amor não é esse bafafá que mais parece uma festa com música eletrônica e Big Brother em dia de Francine brigando com Maíra.


Quando você vive um romance, o típico romance-amor-da-vida-que-não-acontece-pra-qualquer-mortal, desaprende muitas coisas para poder aprender outras. Eu, que sempre fui de inventar, parei com fantasias para poder viver o mundo real. Eu, que sempre gostei do frio na barriga que a montanha-russa traz, entendi que para viver um amor ele precisa nos dar equilíbrio. E a montanha-russa, por mais forte que seja o cinto de segurança, é sempre um risco. Eu, que sempre gostei do risco, hoje não arrisco perder uma parte minha que ganhei. Li um texto hoje que me deixou triste. Era de um cara que estava desacreditado no casamento e no amor. Ele dizia que um em cada dez casais ficam juntos por mais de cinco anos. E ele também dizia que hoje em dia a coisa tá bem, bem difícil. Eu concordo com a última parte, estamos vivendo um momento de amores vazios e relacionamentos fast food. Mas não concordo com o desacreditar. Eu acredito. Acho que antes eu acreditava em fantasias e sonhos. Hoje eu acredito numa realidade, aquela que a gente vive dia após dia, noite após noite. Deve ser por isso que escrevo tantas bobagens amorosas. E gosto, muito e vou falar sempre disso, de finais felizes. Mesmo sendo uma dalit.
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