Algumas coisas a gente aprende desde cedo. Uma delas é a ter bom gosto. A boa notícia é que se você não foi adestrado para andar na Rua Das Coisas Bonitas, não precisa (ainda) ficar preso no pátio. Você pode passar um tempo na Unidade de Gosteamento Intensivo, afinal dizem que tudo tem salvação. Bom gosto pode ser aprendido, basta você estar de olhos bem abertos e ter fome de observação. Observe, observe, observe. Assim você aprenderá a diferenciar o bonito do feio. E, principalmente, a elaborar o seu critério. Não existe uma regra geral, pois o que é legal para mim pode não ser para outra pessoa. Mas é importante ter noção, senso do que é esteticamente belo e do que pode passar por ridículo. E certas coisas são bem, bem ridículas. Uma delas é samambaia. Acho brega. Desculpa se você tem uma pendurada no meio da sala. Mas acho brega-brega-brega, ao cubo.
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Outra que entra na categoria Em Que Lugar Eu Estava Com A Cabeça é a flor de plástico. Não há nada mais esdrúxulo neste mundo. Não é nada higiênico, junta um pó absurdo. Feio, feio, feio - ao cubo. Tem cara de vó brega. Desculpem, vovós. Mas que é feio, é. Ainda no Universo Vovozal, e as toalhinhas de crochê? A minha avó adora, ainda bem que ela sabe que eu detesto um crochê. Crochê não é bonito. Um paninho de prato com uma barrinha, micro barrinha, de crochê ainda passa. E só. Depois, por favor Seu Crochê, se retire do ambiente. Anão de jardim, o que é aquilo? Existe gente sem cérebro que resolve colocar na frente de casa todos os Sete Anões - e a Branca de Neve junto. Por Deus, manda prender esse povo sem gosto! E tem os bustos. Já viram? Esculturas de bustos. Uma vez ouvi uma nova-rica-emergente dizer que busto era muito chique. A mesma nova-rica-emergente disse que tomar champanhe era muito chique. Pena que a coitada senta de pernas abertas, mastiga de boca aberta, não entende nada de arte, não sabe apreciar uma boa bebida e coloca fotos nos Orkuts da vida com roupinhas duvidosas. Ou melhor: com falta de roupinhas duvidosas. Acho incrível quem reclama no melhor estilo os-homens-não-me-valorizam-e-só-me-usam. Dê o exemplo através do comportamento. Quem impõe o respeito e o limite somos nós mesmas - sempre. E os outros não têm culpa pelos nossos erros-acertos-tentativas. Não culpe o mundo (e nem os outros) pelas suas frustrações. Nem pela sua falta de gosto.
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Vieram me perguntar o que eu achava a respeito de alianças. Muita gente diz que é brega aliança fininha de ouro amarelo. Qualquer demonstração de amor não é cafona. E é. Tudo ao mesmo tempo. Alguns acham ultrapassada a magia das flores, a abertura de portas, a serenata, o cartão fora de hora, o batom no espelho, o namoro de portão. Então eu sou bem ultrapassada, pois o meu conceito de amor engloba todas as caretices existentes. Acho bonito o clichêzão. Desculpe, mas acho. Sobre as alianças fininhas, isso é muito pessoal. Eu não gosto, não usaria. Uma aliança não prova que você é mais ou menos amado. Aquele Bambolê De Dedo não esfrega na cara de ninguém o quão feliz você é na sua relação. Mas eu acho bonito usar aliança, quero usar um dia. Uma aliança diferente, personalizada, que só o casal tenha. Que os dois gostem. Se um dos dois tiver a ideia, quiser usar e o outro estiver de acordo, tudo bem. Nem precisa ser casado ou noivo para isso. Uma menina que eu conheço queria porque queria usar anel de compromisso e saiu enfiando no dedo do moço. Assim eu acho feio. Mesmo porque, sou antiga (já disse), acho que essa coisa de enfiar tem que partir do homem. Estou falando do anel ou aliança, sem pensamentos libertinos, por favor.
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Quer saber? Tudo o que demonstra sentimento não é brega. Se você quer colocar no dedo da sua amada, depois de jantar em cima da toalhinha de crochê e dar água para a sua samambaia, uma aliança fininha, tudo bem. Tudo que é feito com amor se torna, mesmo sendo feio, embonitado. É aquilo: de tão feio passa a ser bonitinho. E para encerrar, o Troféu Do Gosto Duvidoso vai para o pinguim de geladeira. O sex symbol da cafonice.