Foto: sílviafonso, http://olhares.aeiou.pt/
Finalmente, para uns, entramos na semana dos namorados. Para outros tantos, a vida é um dia dos namorados. Confesso que desses eu desconfio. Algumas coisas a gente jura que nunca vai dizer. E diz. Outras a gente jura que nunca vai fazer. E faz. É que amar confunde um pouco. Enreda os pensamentos. Embaralha as ideias. Nos faz trocar de sentimentos o tempo inteiro. A gente esquece que convive com outro que, mesmo sendo parte nossa, sempre será outro. Estranho quem coloca o amor acima de tudo. Eu já coloquei e por incrível que pareça foi parando de colocar que entendi o que significa o amor. Todo esse diz-diz-diz me lembra uma música, que gosto muito, do Djavan. Ela se chama "Um amor puro" e vai ilustrar o texto de hoje.
"O que há dentro do meu coração/eu tenho guardado pra te dar/e todas as horas que o tempo tem pra me conceder/são tuas até morrer". Parece que a gente passa a vida guardando partes boas e pedaços de carinho para quando o Amor chegar. E ele não chega. O atraso nos coloca uma dúvida na frente da cara: e se comigo nunca acontecer aquela magnífica experiência que é sentir que eu e um outro alguém somos um só? Parece piegas, mas amar é mais ou menos isso. E a gente passa a vida colorindo esse sonho. Alguns obstáculos, enganos. O amor brinca de esconde-esconde e usa muitas fantasias para nos pregar peças. É um brincalhão. Vai até o fundo e vê até que ponto a gente resiste. O vencedor tem como prêmio um amor de verdade. Então a gente encontra. E pensa que quer passar todo o tempo, toda a vida, as horas, todo o pacote de minutos com aquela pessoa. Até morrer. E começam aquelas frases de quero-ficar-contigo-pra-sempre. Não são mentira, pelo contrário, são verdades. O amor tem urgência e precisa saber que haverá uma continuidade. Quem ama precisa se certificar de que aquilo vai ter um amanhã-e-depois-de-amanhã.
"E a tua história, eu não sei/mas me diga só o que for bom/um amor tão puro que ainda nem sabe a força que tem/é teu e de mais ninguém". Nos unimos com outra pessoa. Não sabemos nada dela. As descobertas chegam devagar, dando aconchego, colocando pulgas atrás da orelha. Se eu pudesse dar um conselho, me ouçam, diria o seguinte: guarde os retalhos do passado para fazer uma colcha, toy art, qualquer coisa. Mas guarde com você. Não conte coisas que já aconteceram e episódios antigos da sua vida, não vale a pena. Se eu pudesse dar só mais outro conselho, me escutem, não queiram saber cada traço do que já aconteceu com a pessoa que você ama. Deixe ela com os desenhos, as ilustrações, os rabiscos. Cada um tem que guardar a sua parte enferrujada. O Hoje é que tem valor, apesar de sermos feitos de Passado, Presente e Futuro.
"Te adoro em tudo, tudo, tudo/quero mais que tudo, tudo, tudo/te amar sem limites/viver uma grande história". E então cada pedacinho vai ocupando o lugar dentro do quebra-cabeça. Parte sua, parte do outro, braço seu, braço do outro, abraço seu, abraço do outro, sua boca, boca do outro, seu corpo, corpo do outro. Tudo se funde. Os gostos, desgostos, manias, jeitos. "Aqui ou noutro lugar/que pode ser feio ou bonito/se nós estivermos juntos/haverá um céu azul". É impressionante como tudo se transforma, simplifica, clareia. Quando a gente tem o amor ao lado a vida fica mais fácil e gostosa. Não importa se você está em um hotel caindo aos pedaços ou em um resort maravilhoso. Não faz mal se está chovendo ou um dia lindo.
"Um amor puro/não sabe a força que tem/meu amor eu juro/ser teu e de mais ninguém/um amor puro". Quando a gente ama não sente a menor falta de atrair olhares e dar uma espiadinha no bonitão/bonitona que atravessa a rua. E, principalmente, quando você ama entende que o amor pode ter força e ser puro. Ao mesmo tempo.