(Por que tem gente que simplesmente não entende?)
Escuta meu amigo, deu pra mim. E deu faz tempo. Não entendo como só você ainda não percebeu. Passei uma parte do tempo tentando, em vão, explicar (e outra, em vão, tentando esquecer). Fazer você compreender que eu já não estava mais ali. E não mais voltaria. Por quê? Por que quando eu falei você virou as costas e não acreditou? Eu disse que sempre tenho razão. Quando eu desisto, desisto. Você devia ter pensado nisso antes. Mas o seu antes foi o meu depois. Por isso a gente se perdeu. Eu só peço que você não me faça perder a paciência agora.
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Uma hora a gente desiste, entende? O coração fica justo demais, sem ar. Fica amarrotado, amassado, desarrumado. E eu gosto dele com cheiro de amaciante, bem passadinho, em ordem. Talvez seja isso, eu gosto da ordem. Minha bagunça é organizada, me acho dentro dela. Mas nunca, em nenhum dia, me achei dentro de você. É difícil aceitar, mas no fundo todo mundo sabe. Eu nunca me achei dentro de você, hoje consigo falar isso com todas as letras, pausadamente, olhando nos seus olhos, olhando bem na minha cara e sem dor. Porque você me doeu de vez em sempre. Meu Deus, como você me doeu! E então eu desisti. Desisti de lembrar do beijo não dado. Desisti de pensar no meu fracasso e insucesso. Desisti de tentar achar um resto meu em você. Desisti de ficar pensando em como era pra ser. Não foi, simplesmente não foi. Algumas coisas na vida da gente simplesmente não vão ser. Chega de procurar porquês. E você sabe, sou a Dona Porquêzeira.
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Eu não quis aceitar. A gente se nega. Quer ir até depois do fim. Quer provar pra si. Eu queria me provar pra você, pra quê?!? Desisti de pegar no sono chorando e no outro dia acordar como quem passou a noite em claro num velório. Desisti de ficar colada ao lado do telefone esperando um milagre. Desisti de perder a minha vida de vista. Desisti de procurar vestígios seus pelas ruas. Uma hora a gente precisa desistir. Mas nessa hora eu prossegui. Pensei que ainda tinha uma explicação. Que aquilo não era cisma. Que não podia ser em vão. Até que um dia sei lá como onde e por qual motivo eu finalmente me deparei comigo. A vida não é isso. Respeito e delicadeza não são isso. Gostar de alguém, por deus, não é isso! Você me ignorou e eu me ignorei, em algo a gente pelo menos combinou. Mas olhei pra trás, tive a coragem de olhar pra trás e perceber que mereço mais. E o mais nunca foi você.
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Precisei aprender que a gente de vez em quando insiste sem razão. Confunde, troca, fica bêbada com tanto sentimento que acaba achando que sapo é cachorro. Não é, não, meu amigo. Todo mundo tem que passar por isso, ao menos uma vez, pra saber. Porque a gente precisa saber. E só sabe vivendo. Então eu esqueci e um dia, distraída, aconteceu. Entendi que o significado de amor é bem diferente. Amor não dói daquele jeito. Não tira o ar daquela maneira abrupta, com uma dor absurda que chega a arrepiar os ossos, que dá reviravolta no pulmão. Aí, uns muitos tempos depois, uma paulada. Amar dói sim, de vez em quando dói. Foi então que me lembrei, amigo meu, daqueles nossos tempos. Tempos do coração ficar amarrotado. Tempos do choro transbordando. Tempos aflitos. Maus tempos. E descobri que foi bem ruim, a nossa história foi inesquecivelmente péssima ao cubo. É por isso que eu fui embora. Porque se é pra doer, que seja dor de amor. E não uma dor por alguém que simplesmente não entende.