Fiquei sem entender. Há alguns anos atrás diziam que a vida começava aos quarenta. E esses dias li em uma manchete que a Julia Roberts “até que está muito bem para quem tem 40 anos e dois filhos”. Esse muito-bem-pra-quem-tem-quarenta me deixou embasbacada, quem vê pensa que os quarentinha são oitenta.
No mundo de hoje você precisa ser jovem. Se não usa botox eu aviso que você está completamente fora de moda. Todo mundo quer ser bonito e eu acho isso saudável, é um empurrão e tanto na autoestima. O problema é quando a sociedade se transforma em um caos e o turbilhão estético entra em ação. Até que ponto as pessoas são vaidosas e em que momento passam a cometer excessos em prol da beleza?
Meninas comem somente uma folha de alface e um pepino em conserva por dia e tomam vários diuréticos, laxantes e remédios para emagrecer, pois precisam estar dentro dos padrões que a novela das oito mostra todos os dias. Mulheres buscam o "bom preço" e acabam em clínicas coladas com Super Bonder. Cirurgia plástica e lipoaspiração são coisas sérias. Colocam a sua vida em jogo. Não sei a sua, mas a minha vida é muito, muito cara. É por isso que na hora de qualquer procedimento cirúrgico, por menor que seja, você deve procurar um profissional excelente. A sociedade é cruel com as mulheres: você precisa ser que nem as outras. E as outras são as que estão nas revistas, nas passarelas, na televisão. Mas ninguém pensa que esse grupo de mulheres vive exclusivamente para isso, inclusive algumas prejudicam a própria saúde, morrem de anorexia, vivem com anemia, sofrem desmaios e sentem fraqueza e tonturas devido a deficiência de nutrientes e vitaminas.
A mídia vende e explora o belo. As pessoas acabam esquecendo o que são de verdade, pois buscam freneticamente resultados e “o nariz da modelo da capa da revista”. Ninguém entende que para aparecer na revista existe todo um processo nos bastidores: figurino, iluminação, maquiagem, cabelo, fotógrafo e photoshop. Uma mulher de cara lavada não é a mesma que estampa a capa de uma revista. Um homem de cara lavada não é o mesmo que aparece naquele editorial de moda. As pessoas ficam mais bonitas e atraentes quando bem maquiadas e penteadas. E, como não poderia deixar de ser, photoshopadas.
Não acho errado, gosto de ver gente bonita, você também deve achar bom. Mas eu gosto – e muito – de gente real, de verdade. Deve ser por isso que gostei bastante daquela Campanha pela Real Beleza, da Dove. Mulheres comuns e reais posaram com roupas íntimas sem nenhum retoque ou maquiagem. E elas tinham quilinhos a mais. Muita gente criticou a campanha, levantando uma questão: o que as pessoas gostam de ver? Gente bonita, alta, magra, com cabelos esvoaçantes e roupas que fazem o estilo isso-só-é-funciona-na-passarela?
Eu sei que vivemos numa busca – que beira a perseguição doentia – constante pela beleza. Não critico, também vivo. Só não é saudável destruir a saúde. E esquecer quem somos de verdade – sem salto alto e chapinha no cabelo. Bonito mesmo é ser natural. E se sentir à vontade dentro do próprio corpo.