(A)Prendendo a respiração

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Você já deve ter passado por isso. O momento. É claro que a vida é cheia deles, os momentos. Mas falo do momento. Pra ficar mais fácil, eu explico. Existe um caminho, aquele que você segue diariamente. Já sabe de cor e se fechar os olhos os pés podem chegar até lá sem mapa. Um dia você resolve trocar o caminho. E se perde.


Os pessimistas dirão que foi bem feito. Ninguém mandou você querer inventar moda. Essa coisa de novos rumos e outras ruas é coisa pra quem tem o Google Maps anexado ao cérebro. Os otimistas dirão que foi ótimo. É no meio do nada que você se encontra. Eu não direi nenhuma palavra, só quero falar do momento.


Você trocou a rota e ninguém estava ao seu lado. Foi andando cegamente à procura de um posto de gasolina (não há lugar melhor e mais bem equipado para dar informações e suporte técnico). Nenhum posto, casa, toca ou formigueiro num raio de 50km. O único som é a respiração dos pássaros - e o seu medo, que grita baixinho. Depois de muito caminhar, um sinal. Você enxerga uma coisa que parece ser a saída - ou seria o fim? Sem olhar para o que ficou pra trás, segue forte. E você chega "lá". Mas o "lá" é um precipício e você ensaia olhar para o que deixou. Além das pegadas, vê a poeira e o nada. Você resolve pular, sem se importar que embaixo do precipício só tem água e - bingo! - você só sabe nadar cachorrinho.


Então você pula, engole muita água, sente dor no corpo, cai em si, começa a mexer os braços e pensa: ou eu nado ou eu morro. E você decide viver. Mesmo que pra isso tenha que morrer nadando.
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