Muita coisa me dá nos nervos, uma delas é essa mania humana (desumana?) de querer tudo perfeito. Não nego que idealizo muita coisa na vida. É aquela velha história: a gente sempre acha que o outro tem que. Esqueço, por vezes, que o outro tem lá suas razões. Assim como eu e você.
Não gosto de gente muda, que guarda e não grita. Se algum dia amarrarem minhas mãos, perco a fala. Se me mandarem ficar quieta, explodo. Eu preciso dizer, isso pra mim é simples. Não tem que pensar, resgatar o que morreu. O que passou, por favor, tenha a elegância de deixar lá. Eu repito a dose e quem me conhece sabe: não sei emudecer. Porque eu escrevo e quem escreve não fica mudo nunca. Posso não falar com a voz, mas sempre digo com os olhos. Explico com os dedos. Repito a dose porque nunca sei onde me guardar. E você, que me lê, é meu cúmplice. A gente se sustenta, se basta, se respeita. É por isso que vim aqui me explicar.
Ando sem entender muito do que quero pra minha vida. Deixo uma certeza: não vou te abandonar. Você pode sempre contar comigo e isso não é da boca pra fora, não é só mais uma frase bonita, não é mentirinha por educação. A gente vai ficar junto, mesmo que isso de vez em quando nos faça mal. Mesmo que você se incomode com o que eu escrevo. Mesmo que às vezes eu seja dura. Por Deus, queria que minha bunda fosse tão dura quanto minhas palavras. Mas entendo, hoje entendo, que nem tudo é perfeição.
Tenho uma ideia diferente do que é perfeito hoje, entende? Perfeito é o que a gente tem, não o que a gente quer ter. Bobeamos absurdamente na tentativa de querer perfeições. Pare de querer, comece a agir. Pare de reclamar, comece a caminhar. Tenho visto pessoas acomodadas em relacionamentos que estão fadados ao fracasso. Agora você me olha com cara torta e diz como-ela-sabe-se-nem-tem-varinha-de-condão. Não preciso e você sabe. Você sempre sabe, eu sempre sei. A gente se engana muito, entre umas e outras. É que depois de ter tomado umas e outras, eu vi. Ninguém muda, a não ser que queira. Mudar exige esforço. Mas, escuta aqui, vem pra perto de mim: tudo exige esforço. Não fica aí parado, vai, se move. Você quer que dê certo? Por favor, faça. Não chore, seja macha. Seja ninja, seja você. A gente descobre o que a gente é na hora em que busca o profundo, o vazio, o escuro. Porque na hora da festa mil sorrisos aparecem e iluminam. Na hora da dor, você se enfrenta, se pressiona, se aguenta. E só assim você acha o caminho. O caminho é sempre você, por mais estranho que isso pareça.
Fiz um escândalo, uma cena. A única na plateia era eu. E entendi que aquilo tudo que me disseram é só aquela busca besta pelo bonito. Ela queria ser perfeita, ter filhos perfeitos, casamento perfeito, vida perfeita, família perfeita. O bonito nem era pra ela, era para os outros. Prometi que nunca iria ser assim, mas segui buscando aquela coisa perfeita e insisto aqui na coisa perfeita porque é ela que fode a gente inteira. Sem dó nem nada disso. Não quero essa vida, essas coisas, essa perfeição costurada. Sem remendos, não me venha com essa. Quero os meus sonhos, que podem ser bobos, mas são meus. Não quero uma vida mulherzinha-espera-marido-em-casa, não nasci pra isso. Tenho meus ataques de mulherzinha, mas minha voz é de mulher, ultrapassa tudo. Porque eu não me calo, não deixo aquilo tudo virar mágoa. A mágoa é um doce de goiaba azedo, que arde a língua e faz a garganta fazer cara de nojo. Minha vida não é isso não. Ela vai além. Eu nunca vou parar de falar, pode escrever isso aí no seu caderno desbotado.
Perfeito é o que eu vou construindo, um passo na frente do outro. Muitas vezes, pra alguns, ando pra trás. Mas sempre achei que de vez em quando a gente recua pra ir mais adiante. É recuando que consigo ter uma visão do horizonte. É vendo o horizonte que descubro exatamente pra onde quero ir. Vou, mas levo comigo minhas palavras. E você, é claro. Se não quiser se perder de mim, vem junto, dá a mão. Mas entenda que de vez em quando vou desabafar assim, eu e minhas crises existenciais. Eu e minhas idealizações enterradas ali mesmo, do outro lado da rua. E a vida ali, através da vidraça, me convidando para uma risada larga e escandalosa.