Eu e minhas reflexões: andei pensando no que quero. No fundo, é uma equação longa e simples. Só quero alguém que me compreenda. Mas me compreenda mesmo, sem que eu precise falar, explicar ou desenhar. É que eu sou difícil e tão simples. Às vezes eu acordo de bem com a vida, com o mundo e comigo. Lá pelas tantas uma mini-coisa, um mini-curto-circuito, uma mini-explosão. É tudo mini e causa um estrago imenso e abala profundamente o meu humor e me deixa de cara e brava e irritada e chateada e meio assim. Estudiosos dizem que não tenho nenhum problema mental, entonces eu me auto-avaliei-analisei-bisbilhotei e concluí que o mundo me afeta, os outros me afetam e eu ainda não sei colocar aqueles escudos imaginários, me isolar acusticamente, definitivamente não tenho uma capa protetora anti-tudo-de-ruim-e-chato.
Eu só quero a coragem de se dar. O peito para se doar. A humildade para reconhecer o que ficou mal colocado. A boa intenção no ouvido, no ombro, no gesto. Eu só quero o simples, insisto nisso, eu quero o simples. Guarde seu dinheiro no bolso. Jogue fora seu tempo contado. Eu quero todo o tempo do mundo, sem sapatos e perfumes e viagens e jóias e coisas caras para compensar o tempo que não é dado, prefiro as coisas raras. Quero piquenique em dia bonito. Olhar para a lua cheia e brilhosa. Andar de mãos dadas. Deitar na grama. Andar de pés descalços. Arrumar a casa. Colocar flores na mesa. Beijo de boa noite e alguém que me cubra quando o lençol escorregar para o outro lado. Não precisa dar beijo de cinema nem fazer cena de cinema nem se ajoelhar que nem no cinema. Mas se fizer, vou achar lindo. E se não fizer, tudo bem, eu sei que a vida real é aquela que existe fora das telas. Quero alguém que ande de balanço comigo. Que me escreva bilhetinhos e cartas. E entenda que para mim as palavras são essenciais. Que não me ache criança por ter medo do escuro. Que não solte a minha mão, apesar de eu dizer que consigo sozinha. Quero alguém que entenda meus surtos de eu-me-basto. Que aceite o fato de eu só mostrar o que quero. E me perceba, veja, sinta, note que eu me faço de valente para não deixar a lágrima cair. Que entenda na hora que quando eu troco de assunto é porque não quero falar daquilo. Que eu disfarço para não mostrar minhas fraquezas. E que quero resolver tudo sozinha sempre. Alguém que entenda meus choros, porque eu choro de feliz e quando alguma coisa dói. E que não me ache boba por chorar em filminhos de amor. Não precisa me entender sempre, só me escutar. Não é para concordar sempre, só me amar apesar de. Apesar do dia ruim, da cara amassada, do torcicolo, da palavra que não foi dita, da frase que foi jogada na cara, do que saiu do eixo, do peso da vida. Apesar do que nem chegou a ser, por favor, me ame com tudo o que você tem. Quero alguém que tenha sonhos e não tenha medo de dividir comigo tudo o que gira em torno deles. Quero alguém que leia o que meus olhos dizem e goste de histórias bonitas. Que ainda acredite nas pessoas, apesar de tudo. Que acredite em mim e, principalmente, acredite em si mesmo. Que não tenha medo, quero alguém sem medo. De amar. De ser o que quer. De melhorar. De ajudar as pessoas. De dar a cara para bater. De entender que sofrer às vezes faz parte. Quero alguém com coragem suficiente para no final de cada dia sorrir e continuar vendo a vida com olhos de criança.