Se fosse um dia normal eu escreveria um longo e-mail. Linhas e mais linhas e outras linhas e novas linhas do assunto e daquele outro e do que está mais adiante. Para mim, nenhum assunto fica sozinho, eles andam juntinhos, um grupo unido e amigo. Que coisa bem linda, pessoa boa essa. Se fosse um dia normal eu escreveria um texto específico e mandaria por e-mail. Sempre me comuniquei melhor escrevendo e detalhando o que aflige lá dentro. Mas hoje não é um dia normal.
Impressionante como a gente tem tendência a olhar somente com os nossos olhos. É claro, dirá você, com os meus olhos eu enxergo. Experimente, então, exercitar ver o mundo com olhos emprestados. De preferência, com olhos que lhe são importantes. Às vezes, a gente fala e faz coisas injustas e a culpa nem é nossa, mas da nossa falta de percepção. O engraçado é que nos sentimos corretos e ainda falamos olha-eu-nem-falo-muito-nisso-já-desisti. Quer me ver triste é falar que desistiu de alguma coisa. Isso dói na gente, essa desistência, essa falta de querer, de investir, de ir. O que dói na gente é a falta.
Resolvi não falar. Melhor não dizer motivos nem o que deixa infeliz ou desconfortável. É que a gente tenta, por meios que julgamos carinhosos, dizer. É que a gente tenta sempre fazer. Mesmo assim, nada, nada, nada do que você faz é visto com bons olhos. Parece que você faz tudo em vão. Sempre achei bom o reforço positivo, dizer para o outro coisas boas que ele faz. Sei que o mundo é crítico, sei também que nem sempre dou um abraço sincero nas críticas. Não gosto de ser criticada. Mas se quiser me criticar, critique com jeito, eu vou entender. O que é duro de aceitar é o outro dizer que se sente mal em dizer o que pensa e que por isso resolveu desistir e ainda revelar que enxerga você - sempre que toca em algum assunto indigesto - como a que se faz de vítima-coitada-sofredora. Experimente por vinte e quatro horas ser mulher.