Realidade ou ficção?!?

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Costumo manter distância dos pessimistas. Não nego que tenho uma frase no espelho do banheiro escrita com batom-vemelho-roubado-da-mamãe que diz assim "pense positivamente que tudo terás". Agora você certamente sentiu uma vontade louca de me perguntar se eu penso sempre positivamente e se tenho tudo que quero. Rá. Olha, eu não consigo, admiro os budistas e os seguidores da Cabala. Se você não sabe, na Cabala é mais ou menos assim: a gente tem que aprender a lidar, domar, coordenar o ego. Todos os sentimentos ruins, tipo inveja, ciúme, cobiça, blábláblá, tudo que é do demo, todo o mal do mundo, tudo é ego. Tentei seguir por esse lado, mas confesso: é difícil mandar meu ego para a Nigéria. Então eu respiro fundo cinco vezes, imagino uma praia linda com um mar limpo e areia clara e céu de um azul muito azul que é o rei do azul e o ninja do mundo azulado e penso assim: calma, tudo ficará bem.


Tem gente que grita, chora, xinga, briga, fala palavrão, se esconde, desiste, reclama. Eu faço de tudo um pouco, mesmo porque sou uma impulsiva psicoticamente neurótica e obcecada por uma vida de romances cor de rosa com gosto de mel e doce de leite com pequenas gotas de leite condensado. Hum, talvez seja por isso que eu estou acima do peso, fico pensando coisas com gosto de mel e doce de leite com pequenas gotas de leite condensado. E depois, a cara-sardenta-de-pau de colocar quatro gotinhas de adoçante no café. Faça-me o favor! Eu grito, choro, xingo, brigo, falo palavrão, me escondo, reclamo. Mas não desisto. Ah, eu já desisti tanto na vida que cansei! Desisti de cursos, paixões furadas e amizades com fundo. E eu não gosto de nada furado nem com fundo. Gosto de coisas sem final, deve ser culpa do meu lado impulsivo psicoticamente neurótico e obcecado por uma vida de romances cor de rosa. Tem coisa mais brega que isso? Ensinam assim para a gente: você precisa de um amor, de um filho, de uma casa, de uma vida, de um cachorro, de um homem que te cuide. Você precisa aprender a costurar, a cozinhar, a sorrir, a estar sempre disposta. Ninguém ensinava lá no tempo do homem das cavernas o seguinte: mulherada, cuidem de suas próprias vidas! Estudem, aprendam, trabalhem, ganhem seu próprio dinheiro para comprar absorvente, ao invés de viver com o dinheirinho que o senhor querido dá. Tem coisa mais ordinária que viver de mesada do marido? Ando um pouco revoltada com o tal aspecto cultural. Já viu que tudo é cultural? Da natureza feminina ou masculina. Portanto, a natureza feminina é louca, por isso adoram dizer que mulheres são loucas. Outro portanto, a natureza masculina é fissurada em mulheres peladas - dos outros. Sim, porque a mulher vive para o homem, tem que aprender a segurar seu próprio homem. Já o homem, cof cof, ele dá a desculpinha do futebol ou a cerveja com os amigos para virar o pescoço para cada baranga de short curto que atravessa a rua. E a gente tem que se conformar, pois eles aprenderam assim. Não conseguem viver para uma mulher só, cuidar daquela mulher só, precisam olhar outras na rua, na revista, na chuva, na fazenda. E na porra da casinha de sapê também!


Desculpe o meu protesto-desabafo-loucura. Já viu que mulher sempre se desculpa e joga a culpa na loucura? Eu tava louca, eu não sou louca, não tô louca, louca, eu? Que chatice. E eles? Os queridos se desculpam dizendo que todos os homens são assim. Se todos são assim, prepare-se para sentir que está competindo com todas as mulheres do mundo. E vá reservando um lugar no alto de sua cabeça. Se sentir uma coceirinha, não foi aquele shampoo alemão carésimo que deu uma reação esquisitóide em seu couro cabeludo, é ela: a grande e patética peruca de touro estrategicamente posicionada no alto dos seus fios de cabelo bem tratados.
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