Tem gente que se esconde atrás de um sobrenome, gostam de prêmios e fama. Alguns precisam de um rolex, o carro do ano e um duplex. Manolo nos pés, bolsa de grife nos ombros e o carão de quem chegou no lugar onde queria. Eu dispenso tudo isso, menos as mágicas palavrinhas de Cazuza: "algum trocado pra dar garantia".
Já faz tempo que descobri que ninguém vive só de amor. Uma hora a barriga ronca, é sempre bom ter um dinheirinho. Um amor e uma cabana? Acho lindo, desde que a cabana seja mega confortável, tenha TV a cabo, internet, ar condicionado, travesseiros de pena e, lógico, desde que o celular funcione. Não que eu seja uma tarada por telefone, mas nunca se sabe quando será necessário chamar o 911. Por isso, algum trocado é sempre importante.
O que é importante não é fundamental, que fique claro. A vida, pra mim, vai além de nome no jornal, desfile de modelitos, sorriso estampado em revista, Ilha de Caras, puxação de saco e babação de ovo. Eu preciso viver com gosto. Pra mim, a vida precisa ter cheiro, som, sabor. Nada sem sal (mesmo porque minhas papilas gustativas imploram por sabores: deve ser por isso que, vezenquando, sou salgada demais, picante, tão doce que enjoo. Às vezes eu peso a mão no tempero ou no Sazón). Nada que não perfume o ambiente. Nada sem flor. Adoro preto e branco, mas preciso de uma cor, nem que seja nas unhas. Não vivo sem perfume. E preciso do gosto pelas pequenas e quase inocentes alegrias diárias.
Ah, eu insisto tanto nisso! Não sei como alguém consegue fechar a janela sem observar os tons do céu. Eu adoro quando é fim de tarde e as nuvens ficam meio rosadas, acho lindo. Me dá uma paz grande, daquelas que chegam metendo o pé na porta do coração, sem bater nem nada. A paz chega e se instala como se fosse de casa há tempos. E a chuva, tem coisa mais linda? Os pingos dançando, os raios iluminando a vida, os trovões lembrando que o tempo passa sem a gente perceber. É aí que eu vejo claramente: tem gente que desaprendeu a enxergar.