O título do texto que você começou a ler é direto e simples. O contrário de mim. Dezembro nunca se deu bem comigo, não me pergunte o porquê de tamanha antipatia. Quando eu era criançola, chorava quando ouvia "Noite Feliz". Na época da escola, me dava um formigamento que começava no dedinho do pé e subia até a raiz dos cabelos com luzes. Era tempo de boletim, prestação de contas (em casa) das notas. Desespero nada agradável. Na época da faculdade, a correria, entrega de trabalhos e provas.
Durante quatro anos consecutivos, meus dezembros foram doloridos. Aquela coisa de paixonite-amorosa-doentia-mal-correspondida. Dezembro era o mês perfeito para sofrer: retrospectivas e balanços ao som de "então é Natal e o que você fez, larirarará". Eu me dava conta de que não tinha feito nada, a não ser esperar por quem não vinha (e quando vinha oferecia pão velho sem água). Teve um dezembro que eu quase surtei. Meus pais estavam numa fase separa-não-separa e passei um Natal tristonho: eu, meu pai, nossa semi-bebedeira e caminha antes da meia-noite. Nunca dormi tão cedo em um Natal, a única parte boa foi que combinamos não assar nenhum peru no forno.
Dois mil e oito tinha tudo para começar ruim. Tudo mesmo. O ano-novo foi estranho, um pouco vazio. Faltava parte da família, logo eu tão acostumada a estar cheia de gente na contagem regressiva. Janeiro chegou acanhado, fevereiro se aproximou. Chegou março, um mês diferente. Eu estava distraída, mergulhada em planos e numa promessa de vida diferente. E então eu conheci aquele que eu soube pouco tempo depois que seria o amor da minha vida. Não foi amor bate-o-olho-e-saca-na-hora. Por isso, entendi que o amor é tijolinho em cima de tijolinho. É dormir abraçado. Olhar no olho pela manhã. Coisas simples, mas intensas. É ter com quem e pra quem contar o que saiu certo e o que fugiu pela janela. O ano foi passando e chegou dezembro. Dezembro, meu inimigo. No ano passado, eu estava loucamente nervosa. Ia me formar, foi um stress multiplicado por dois stress. Me formei e hoje nem sei se stress tem plural. E eu escrevo stress porque acho estresse muito feio.
Quando eu tinha 15 anos, sonhava uma vida diferente aos 30. Eu tinha tudo planejado, era uma listinha de coisas a fazer, tipo lista de compras. Pão, frios, leite, alface, iogurte, granola, carne, cebola, ovos: minha vida era uma lista de supermercado. Em 2010, os trinta chegam de mala e cuia e eu não sei fazer chimarrão, pois sempre entope a bomba e o morrinho de erva-mate desmonta. Existe um curso Aprenda A Fazer Chimarrão Em Duas Tardes? Com trinta anos, eu pensava que me sustentaria sozinha. Teria um apartamento, carro, pagaria a conta de luz, teria uns 5 ou 6 livros publicados, encontraria um amorzinho - e pra isso também havia uma lista. Depois, tudo aquilo que você conhece filho-cachorro-cremes-caros.
Neste mês, minha vida está muda. Estou no pause, aguardando, na espera. Esperando meu livro, um emprego, esperando por mim. Por isso, decidi: meu plano para o próximo ano é não fazer planos. Preciso aproveitar melhor a vida, não me preocupar tanto com listas e afazeres e aprender a relaxar da minha própria pressão. É claro que não vou ficar de braços cruzados esperando a vida me dar tchauzinho, nada disso. Não vou me transformar em uma irresponsável que deixa o barco correr sozinho, afinal, alguém precisa assumir o posto: só preciso parar um pouco pra tomar uma água. Se bem que é dezembro e, você sabe, é tempo de festa. E brinde não se faz com água mineral.