Não que eu tenha deixado de acreditar, é que andei distraída dentro da própria distração. Por isso, acabei deixando escorrer pelo corpo, feito água do chuveiro, a simplicidade das coisas pequenas, coisa quase formiga, quase ervilha, quase quase.
Descobri que não posso tentar sufocar meu jeito. E olha que tentei de todas as formas: afogamento em bacia de plástico com a borda quebrada, sufocamento com travesseiro de pena de ganso, corte certeiro com faca Ginsu, tiro com arma de chumbinho e golpe à la Karatê Kid. Nada feito. Decidi, então, ser eu. E aceitar tudo o que isso implica.
Me dei conta que a gente pode mudar - e que isso faz parte da evolução da espécie. Não tem problema se você voltou atrás, impressões erradas existem, amores à segunda vista também e, principalmente, novos olhares.
Pensei que para ser gente grande eu precisava ser menos. Dar um chega pra lá na ingenuidade. Ser mais valente e não me importar tanto. Que bobagem a minha. Tentar negar as origens é a coisa mais burra do mundo. Por que eu tenho que modificar a minha essência? Se eu não estivesse satisfeita com ela, tudo bem. Mas não posso me agredir tentando modificar uma coisa só por pensar que os outros se incomodam com essa coisa. Entende o que eu falo?
Durante muito tempo da minha vida fiz coisas que eu não gostava direito só pra agradar. Porque eu pensava que assim faria as pessoas que estavam a minha volta felizes. Que atitude burra a minha. Quem te ama fica feliz quando você está feliz, não importa se você vende coquinho na praia, se é presidente de uma multinacional ou se é catador de lixo. Tá bom, vai, peguei pesado. Qualquer pai e qualquer mãe ficariam mais felizes vendo o filho na suíte presidencial do Copacabana Palace. Mas, por favor, diz pra mim que entendeu o foco da coisa. Não é o que você quer ser, mas o que e quem você é de verdade, no fundo, no fundo do fundo, no próprio poço.
Acho isso tão importante: ter a consciência exata da onde está, de quem é e assumir todos os riscos que os sonhos trazem diariamente. Isso é viver a vida, Manoel Carlos.