O amor é mesmo engraçado. Do nada, um sentimento surge. E fica oscilando feito a Bolsa de Valores. Vai e vem, sobe e desce. Funciona assim: ele está sendo muito legal com você, então ganha pontos. Ele dá uma resposta que entala porque é meio torta, perde. Ele é carinhoso na hora em que você precisa, ganha. Ele não se deu conta que você precisava de um carinho, perde. Ele adianta seus pensamentos, ganha. Ele dorme no ponto, perde. E assim vai mantendo o equilíbrio na balança: o lado bom sempre vencendo o ruim. Que nem filme de mocinho e bandido; o amor é o mocinho, o desamor é o vilão.
Pensei no meu amor, que é tão bonito. Começou de mansinho, foi ganhando terreno e construiu uma casa de muitos metros quadrados, com piscina, quadra de tênis, ofurô, banheira de hidromassagem, jardim de inverno, quintal, muitas flores e plantas. Uma casa segura, sem grades, cerca elétrica e olho mágico.
É tão simples. Você sabe que encontrou o amor quando o mundo se prepara para 2012 e tudo está dando errado, mas ele fala alguma coisa com aquele jeitinho que você se apaixonou e a vida fica colorida. E você ri de tudo, da própria vida, do mau humor, do fim do mundo. Não sei explicar direito, mas o amor pra mim é aquele calorzinho bom que dá no peito da gente quando tudo o que você mais precisa é daquele abraço que limpa qualquer céu cinza cheio de nuvens, carregado, com cara de temporal. E o sol se abre, porque um outro mundo se abre e te invade prometendo que sim, tudo vai dar certo. Tem coisa melhor do que ouvir da pessoa que a gente ama que tudo vai dar certo? A sua melhor amiga pode falar, sua mãe pode desenhar, mas não tem jeito: basta quem você ama dizer tudo vai dar certo que, plim, como um passe de mágica, como o pó mágico, como a varinha de condão mágica, plim, tudo se transforma. E você acredita de novo mais uma vez novamente em mim, em todos, nele.
Quando eu te conheci aconteceu durante um tempo, dois tempos, três tempos aquele mini-segundo-que-parece-três-horas-de-espera-na-sala-do-dentista. E eu sabia de alguma maneira. Sabia sim, sabia que aquele dia iria mudar a minha vida. Eu sabia, tudo estava estranho, eu não estava planejando você, planejando a gente, a vida planejou por nós. E aconteceu de uma maneira tão serena e bonita como nada tinha acontecido até então na minha vida que eu cheguei a pensar por favor, pelo amor de Deus, tem alguém aí, me acorda que não tô conseguindo raciocinar direito. Pela primeira vez eu não pensei. E eu descobri isso agora enquanto escrevo. Não pensei em nada, eu que sempre penso desde que acordo, eu não pensei em nada. O problema foi decidir, sou libriana e não nego minha indecisão, mas eu decidi e fui sem pensar. Então, te encontrei. E naquele milésimo de segundo eu senti que tudo podia ficar mais simples. E ficou.
Meu coração, que estava tão acostumado a fugir, não arredou o pé direito nem o esquerdo. Minha vida, que estava temporariamente programada para não receber chamadas, atendeu. Tudo clareou. Descobri que o medo existe - e que bom que existe - pra gente superar, entender, aprender, dar a mão. E que toda história tem que ser cuidada como se fosse planta: proteger do sol, dar água, carinho, atenção. E que tudo precisa ser arejado, senão mofa: tem que ventilar, deixar o sol entrar. Descobri que é tudo tão mais bonito ao seu lado, quando nossas mãos estão juntas e nosso coração colado. E que é clichê, mas é bonito deitar a cabeça no teu peito só pra ouvir o tum-tum que faz o teu coração. Descobri que toda a vez que eu encosto o meu nariz na tua nuca e respiro forte e fundo, me apaixono mais uma vez.
Nem sempre a minha boca consegue dizer para você o que quero, ainda bem que tenho dedos. Se o gênio da lâmpada aparecesse pra mim e dissesse que só posso fazer um pedido pra minha vida, presta atenção, seria esse: nunca me perder de você. Porque nem sempre eu sei pra onde ir, mas sempre, sempre mesmo sei pra onde eu quero voltar.