Foto: made in Sarah & Bendrix
Eu tenho uma teoria. Por favor, não me chame de neurótica, quadrada ou radical. Ou me chame, se quiser. Pra mim é simples: os homens foram educados na Escola Para Homens e as mulheres na Escola Para Mulheres. A dos homens tinha cerveja, funcionárias da calçada, revistas de gente pelada-pelada-nua-com-a-mão-no-bolso, cheiro a mofo e pia cheia de louça pra lavar. A das mulheres tinha clericot, gente amiga, revistas de moda, decoração e fofoquita, cheiro de perfume francês e cozinha limpinha.
Você sabe que estou brincando, não é? Conheço muitos homens que ajudam nas tarefas domésticas, não gostam de bagunça, só bebem vinho no Natal e já decidiram que o nome dos filhos será Leandro e Leonardo. Assim como várias mulheres não ligam para unhas feitas, papo de salão de beleza, organização do closet por cores e, pasme, nunca sonharam com príncipes.
Temos a péssima mania de rotular. Maria é assim, Fabrício é assado. Mas duas coisas são certas: todo homem-não-boiola já foi em puteiro e já viu revista ou site de mulher pelada e toda mulher já elaborou a listinha de pré-requisitos. Quanto aos homens, preciso explicar? Na adolescência, o próprio pai ou os amigos levam o querido em algum estabelecimento respeitado de meninas fáceis. Na vida adulta, o próprio pai ou os amigos levam o querido em algum estabelecimento respeitado de meninas fáceis. As revistas eles assinam, compram nas bancas ou dão uma olhadela via internet. Com os sites, mesma coisa. Os amigos mandam ou o querido procura. Simples. E a mulherada? A lista é extensa, bem maior do que a do rancho mensal, aquele que você faz no supermercado. Quero casar, comprar um apartamento, ganhar bem, ter cachorro, empregada, cozinheira e filhos. Mulher quer ter, o consumismo é absurdo. Mulher quer todas as coisas boas da vida (isso é pecado?). A lista segue: quero que ele seja moreno, se tiver olhos verdes melhor ainda, tem que ser alto, tem que ser formado, tem que ganhar um valor X, tem que saber cozinhar e preparar sobremesa, tem que fazer massagem boa, tem que gostar das mesmas músicas que eu, tem que matar barata em menos de 3 segundos, tem que notar quando corto o cabelo, tem que ouvir minha ladainha tpmística, tem que adivinhar quando estou querendo atenção.
Nosso comportamento esquizofrênico chega a ser cruel – e eles não merecem tamanha maldade. Eu sei, eu sei que quando temos 15 anos e somos sonhadores e livres e achamos que o futuro é um grande parque de diversões, as mulheres pensam que a vida é um final feliz por dia. Um grande amor. Um que junta com outro um – e a soma vira dois. Os homens pensam em quantidade. Mulheres? Muitas. Peladas? Todas. Elas sonham com o amor, eles sonham com a garota molhada da semana. O comportamento imaturo deles chega a ser cruel. Uns homens crescem, outros não. E temos que con(viver) com isso. Algumas mulheres crescem, entendem que a grande magia da coisa é a vida real – cheia de defeitos especiais. Outras, continuam achando que o futuro é um grande parque de diversões, com um final feliz por dia.
Mulheres são torturadas e desafiadas pelo pensamento, que não para nem pra tomar água – e pela mídia, diariamente. Talvez, por isso, sejamos menos felizes – e livres – que os homens. Arrumamos desculpas o tempo inteiro. Revistas, filmes e livros falam de relacionamentos. Mil formas de deixá-lo louquinho, doidinho, caidinho. Conquiste, abale, ganhe, faça a comida preferida dele, compre uma calcinha fio dental, se perfume, seja alto astral. Isso me lembra o tempo da minha avó. As mulheres cuidavam dos filhos, não tinham ambições, projetos pessoais e profissionais, viviam para cozinhar, lavar, passar e, no fim do dia, trepar. Uma mistura de escrava-serva-secretária-mãe-empregada-santa-e-puta. Uma pessoa sem vontades, desejos, horizonte. Que transava à noite e acordava cedo pra preparar o café da manhã. Seria vontade própria ou medo de que o marido tomasse café na casa da vizinha? Lembro que as mulheres mais antigas ainda dizem “tem que satisfazer as necessidades do teu homem, senão ele vai procurar na rua”. Estamos em 2010. Por favor, rasgue seus livros de auto-ajuda. Esqueça o último conselho da Nova. Delete aquele e-mail “50 dicas de sexo oral – aumente o prazer do seu parceiro”. Esquecemos que eles também precisam se empenhar, agradar, cuidar, valorizar, respeitar – e amar. Que não existe a-mulher-faz-isso-o-homem-faz-aquilo. E que o Manoel Carlos, infelizmente, não escreve o roteiro das nossas vidas.
* Texto escrito para o site da Mauren Motta.
Eu tenho uma teoria. Por favor, não me chame de neurótica, quadrada ou radical. Ou me chame, se quiser. Pra mim é simples: os homens foram educados na Escola Para Homens e as mulheres na Escola Para Mulheres. A dos homens tinha cerveja, funcionárias da calçada, revistas de gente pelada-pelada-nua-com-a-mão-no-bolso, cheiro a mofo e pia cheia de louça pra lavar. A das mulheres tinha clericot, gente amiga, revistas de moda, decoração e fofoquita, cheiro de perfume francês e cozinha limpinha.
Você sabe que estou brincando, não é? Conheço muitos homens que ajudam nas tarefas domésticas, não gostam de bagunça, só bebem vinho no Natal e já decidiram que o nome dos filhos será Leandro e Leonardo. Assim como várias mulheres não ligam para unhas feitas, papo de salão de beleza, organização do closet por cores e, pasme, nunca sonharam com príncipes.
Temos a péssima mania de rotular. Maria é assim, Fabrício é assado. Mas duas coisas são certas: todo homem-não-boiola já foi em puteiro e já viu revista ou site de mulher pelada e toda mulher já elaborou a listinha de pré-requisitos. Quanto aos homens, preciso explicar? Na adolescência, o próprio pai ou os amigos levam o querido em algum estabelecimento respeitado de meninas fáceis. Na vida adulta, o próprio pai ou os amigos levam o querido em algum estabelecimento respeitado de meninas fáceis. As revistas eles assinam, compram nas bancas ou dão uma olhadela via internet. Com os sites, mesma coisa. Os amigos mandam ou o querido procura. Simples. E a mulherada? A lista é extensa, bem maior do que a do rancho mensal, aquele que você faz no supermercado. Quero casar, comprar um apartamento, ganhar bem, ter cachorro, empregada, cozinheira e filhos. Mulher quer ter, o consumismo é absurdo. Mulher quer todas as coisas boas da vida (isso é pecado?). A lista segue: quero que ele seja moreno, se tiver olhos verdes melhor ainda, tem que ser alto, tem que ser formado, tem que ganhar um valor X, tem que saber cozinhar e preparar sobremesa, tem que fazer massagem boa, tem que gostar das mesmas músicas que eu, tem que matar barata em menos de 3 segundos, tem que notar quando corto o cabelo, tem que ouvir minha ladainha tpmística, tem que adivinhar quando estou querendo atenção.
Nosso comportamento esquizofrênico chega a ser cruel – e eles não merecem tamanha maldade. Eu sei, eu sei que quando temos 15 anos e somos sonhadores e livres e achamos que o futuro é um grande parque de diversões, as mulheres pensam que a vida é um final feliz por dia. Um grande amor. Um que junta com outro um – e a soma vira dois. Os homens pensam em quantidade. Mulheres? Muitas. Peladas? Todas. Elas sonham com o amor, eles sonham com a garota molhada da semana. O comportamento imaturo deles chega a ser cruel. Uns homens crescem, outros não. E temos que con(viver) com isso. Algumas mulheres crescem, entendem que a grande magia da coisa é a vida real – cheia de defeitos especiais. Outras, continuam achando que o futuro é um grande parque de diversões, com um final feliz por dia.
Mulheres são torturadas e desafiadas pelo pensamento, que não para nem pra tomar água – e pela mídia, diariamente. Talvez, por isso, sejamos menos felizes – e livres – que os homens. Arrumamos desculpas o tempo inteiro. Revistas, filmes e livros falam de relacionamentos. Mil formas de deixá-lo louquinho, doidinho, caidinho. Conquiste, abale, ganhe, faça a comida preferida dele, compre uma calcinha fio dental, se perfume, seja alto astral. Isso me lembra o tempo da minha avó. As mulheres cuidavam dos filhos, não tinham ambições, projetos pessoais e profissionais, viviam para cozinhar, lavar, passar e, no fim do dia, trepar. Uma mistura de escrava-serva-secretária-mãe-empregada-santa-e-puta. Uma pessoa sem vontades, desejos, horizonte. Que transava à noite e acordava cedo pra preparar o café da manhã. Seria vontade própria ou medo de que o marido tomasse café na casa da vizinha? Lembro que as mulheres mais antigas ainda dizem “tem que satisfazer as necessidades do teu homem, senão ele vai procurar na rua”. Estamos em 2010. Por favor, rasgue seus livros de auto-ajuda. Esqueça o último conselho da Nova. Delete aquele e-mail “50 dicas de sexo oral – aumente o prazer do seu parceiro”. Esquecemos que eles também precisam se empenhar, agradar, cuidar, valorizar, respeitar – e amar. Que não existe a-mulher-faz-isso-o-homem-faz-aquilo. E que o Manoel Carlos, infelizmente, não escreve o roteiro das nossas vidas.
* Texto escrito para o site da Mauren Motta.