Oi, você que me lê. Tudo bem? Tenho andado um pouco ausente, me desculpe. Muitas coisas novas e loucas acontecendo. Por isso, ando nova e louca. Mas vim aqui dividir uns pedacinhos meus. Quer? Então pega um café forte, um chá com limão, um vinho bom ou um martíni com duas azeitonas bem verdinhas e suculentas e vamos conversar um pouco. Preciso colocar para fora o que esses dias têm me ensinado.
Escrever me faz feliz, mas ando cada vez mais distante do meu texto, do meu blog, das folhas amassadas pelo chão. Apesar disso, claramente, ando cada vez mais perto de mim. Às vezes, a gente precisa se afastar para se encontrar. Demorei um pouco para perceber isso, deve ser a cor do cabelo. Dizem que as loiras pegam no tranco. Falando nisso, sabe o que andam dizendo? Que estou ruiva. Juro que nem fiz nada no cabelo, não faço luzes, mechas e coisas parecidas há dois anos e meio, fiquei natural, deixei tudo natural, mas o meu natural até então era loiro, segundo os cabeleireiros. Mas andam dizendo que estou ruiva, acho que as pessoas têm essa ideia de que os possuidores de rostos poás, leia-se sardas, são ruivos. Então, sou ruiva agora.
São muitas coisas novas. Do ano passado para cá, minha vida deu uma guinada. Os trinta estão cada dia mais perto. Não dá para ter medo de sentir medo. Eles vão chegar, com tudo o que há de bom e ruim. A vida é assim, não é? Ninguém me avisou como seria tudo isso. Agora, de repente, me vejo estranha. Mas um estranhamento bom, ando tão feliz.
Vou ser tia novamente. Vou lançar um livro. Um livro, gente. Esperado, sonhado, reescrito, rasurado, um livro. O meu livro. Tem noção do que é isso? Sabe o que significa pra mim? Ah, significa tanto. Você sabe? Foi tão, mas tão difícil. Pensei em desistir, mas se eu desistisse dele desistiria de mim.
Perto dos trinta anos descubro que desde os seis anos de idade eu sabia o que queria da vida (garota prodígio essa, hein?). Fui por tantos, mas tantos caminhos. E descobri o que estava na minha cara há muito tempo: eu nasci para escrever. Para trazer aquela emoção pelo braço, para fazer rir e deixa a lágrima cair. Foi pra isso que eu vim ao mundo. Sabe, eu acredito muito naquela coisa de missão. Todo mundo tem uma missão, não tem? Qual a sua? Por que você está aí, parado, no mundo? Anda, se move, se descobre, se permite.
Minha missão é tentar fazer o mundo dos outros mais bonito, através das palavras. Nem sempre é fácil. Durante muito tempo, vivi num mundo de magia, onde tudo era perfeito. Achava que as pessoas eram amigas, bondosas, que iriam esticar a mão na hora do aperto. Descobri que o mundo anda rápido demais para o outro olhar para o lado. Hoje em dia, as pessoas querem tanto, uma mistura de poder, dinheiro, carro do ano, jóias, sapatos, bolsas, maquiagens, viagens, isso tudo me cansa, e o que a gente tem para oferecer? E o que fica por dentro? Sabe, eu gosto de coisas bonitas. Pessoas e coisas. Mas eu me preocupo demais com a beleza de dentro. Cadê a bondade, cadê o sorriso verdadeiro, cadê a paciência com gente mais velha e com criança, cadê a educação, cadê a vontade de ser melhor? Ser melhor não é ter mais grana e menos ruga. Ser melhor é se importar com quem está ao lado, atrás, no outro canto do planeta. Ser melhor é sorrir para uma senhorinha na rua que está carregada de sacolas e bengala, me diz, o que custa ajudar? O que custa conversar um pouco com uma pessoa que a gente vê que é solitária demais e aquilo tudo dói, dói, dói muito nela? Não custa. Mas eu descobri que ninguém se importa. E quer saber? Vou continuar me importando. O que eu aprendi é que não posso me entristecer com quem não se importa. Olha, eu sou cheia de falhas. Mas eu quero um mundo mais bonito, eu insisto nisso. Quero a beleza da vida e das pessoas. Quero a bondade no gesto. É pedir muito?
Sábado que vem eu lanço o meu livro. É tipo um filho muito desejado. No meu caso, foi aquela gravidez difícil. Sofri alguns abortos e tive que fazer tratamento para engravidar. Durante os dez meses de gestação (sim, foi uma gravidez anormal), muitos enjoos. Me orgulho de não ter pago para publicar um livro e de não ter precisado pedir patrocínio para empresas. Mas deu tanta incomodação que você nem imagina. Um dia escrevo um livro contando isso. Fico pensando: o que virá depois? Bate um medinho doce. Então é isso: escrever, ser lida, lançar um livro. E depois? O depois eu não sei direito, mas quero aproveitar o agora. Porque eu mereço. E não tenho a menor vergonha de dizer que mereço mesmo, mereço muito. Foi suado.
Estou feliz. Tremendo por dentro e pensando: será que alguém vai? Uma vez, me falaram que o pesadelo de todo escritor é o primeiro lançamento. A gente convida até o padeiro, de tanto medo que ninguém apareça. Eu estou convidando inclusive as panfleteiras que ficam paradas nos semáforos, entregando panfletos de empreendimentos imobiliários. Pensei em contratar figurantes também. E a torcida do Grêmio.
Voltando ao assunto, estou feliz. Gostaria muito que meu avô estivesse aqui. No ano-novo, ele estava muito emocionado falando do meu livro. Fez um brinde especial para mim e encheu os olhos de lágrimas. Lágrimas de orgulho, sabe? Vi que aquilo deixava ele faceiro. Infelizmente, ele não vai poder compartilhar esse momento comigo. Mas não vou chorar, vô. Vou ficar feliz porque sei que daí você vai ficar feliz também. A vida continua para quem fica, vô. E também continua para quem vai. Pelo menos é isso que eu acredito. De alguma forma a tua vida está seguindo. Manda boas vibrações para a minha avó, para que ela se recupere mais e mais e mais e volte a ser quem ela era. E fica bem aí no céu. Que a gente tenta ficar bem, diariamente, aqui na terra.