Imagem: Reprodução.Cada um tem os seus hábitos e manias e, como as pessoas são diferentes, é natural que sua forma de ser seja completamente diferente da do outro. Até aí tudo bem, o problema começa quando você decide morar junto com alguém (leia-se: uma criatura do sexo oposto). No começo, tudo é lindo eba-vamos-morar-juntos. Realmente não tem nada melhor do que deixar as escovas de dentes e os pés juntinhos.
Existe aquela excitação pela escolha do tapete, das cortinas, da mesa, dos lençóis, das toalhas, das louças. É uma fase em que os casais demonstram sintonia e revelam seus gostos. Você não curte tanto laranja, mas como ele adora você cede e pensa tudo bem, não faz mal ter um tapete laranja no banheiro. Ele não gosta de rosa, mas como você ama ele cede e pensa tudo bem, não faz mal ter uma almofada rosa na poltrona da sala. E assim vocês convivem pacificamente, lindamente, amorosamente, coladamente, apaixonadamente até que.
Um dia você chega cansada do trabalho. Um dia ele chega cansado do trabalho e senta no sofá. Você, com fome, fica tentando lembrar o que tem dentro da geladeira. Ele, com fome, te dá a maior força para fazer uma lasanha. Então, você levanta sua rica bunda e vai para a cozinha. Então, ele fica com a rica bunda procurando algo de bom na televisão. Você releva, afinal, o amor é lindo. Faz a comida, arruma a mesa, leva a comida quentinha para a mesa, chama o querido para jantar, serve o prato dele, enche o copo dele de Guaraná e ainda avisa cuidado-que-tá-quente. Ele sorri, leva o garfo até a boca, mastiga com cara de que está bom e diz “hmmm”. Você sorri, afinal, está bom mesmo e, suspirando, se dá conta que a pia está cheia de louça suja e você fez as unhas logo hoje. Pensa silenciosamente que tinha que existir alguma lei, tipo a Lei Da Unha Feita, que deveria proibir toda e qualquer mulher, independente de quantas celulites, estrias, cabelos brancos, peso e tamanho do pé tenham de lavar a louça e executar tarefas domésticas no dia em que encontraram sua manicure preferida. Você termina de comer, leva o prato para a pia (que mais parece o Kilimanjaro Das Louças) e vai até o banheiro fazer xixi. Na volta, percebe que o querido voltou para o sofá e que o prato dele permanece em cima da mesa. Então, você suspira um suspiro fundo e suspirado, pega a louça dele e deixa o Kilimanjaro ainda mais alto. Coloca um pouco de detergente na esponja e, sem nenhuma outra alternativa, começa a lavar. Enquanto você tenta tirar o queijo que está grudado no prato e não quer mais sair ele aparece, coloca as mãos na sua cintura, encosta a cabeça no seu ombro e diz baixinho desculpa-amor-nem-te-ajudei-hoje-estou-tão-cansado. Você sorri, dá um beijo, termina de lavar a louça, abraça o querido, faz cafuné e diz com voz meiga vamos-deitar-amor-te-faço-carinho. Vocês deitam, ele pega no sono, você assiste um filme de amor, chora quando vê que o mocinho ajuda a mocinha a arrumar a cozinha, seca as lágrimas, desliga a televisão e fecha os olhos até que ouve um ronco. Você cutuca ele e diz amor-vira-para-o-outro-lado, ele faz aham-aham, não se vira, você cutuca de novo, ele vira e você fecha os olhos novamente. Meia hora depois acorda assustada, pois parece que tem um leão furioso ao seu lado, mas é ele que ficou de barriga para cima de novo e ronca feito um porco-leão (porcalhão?). Você cutuca de novo, mas não adianta muita coisa, então coloca o travesseiro na cabeça e tentar pensar nas Ilhas Gregas até pegar no sono novamente.
No outro dia você chega exausta do trabalho, pois a tarde foi muito difícil e ainda por cima dormiu pouco. Então você toma um banho, coloca seu pijama mais quentinho e confortável e resolve ver a novela. Quando ele chega em casa você diz meio que se desculpando (afinal todos os dias ele chega e tem comida em casa) olha-não-fiz-nada-para-comer-estou-com-preguiça. Ele te olha meio estranho (como assim, preguiça?) e diz vamos-pedir-uma-pizza? Você topa, liga para a pizzaria e faz o pedido. A pizza chega, vocês jantam, ele levanta da mesa e liga a televisão, pois está muito cansado. Você leva os pratos para a cozinha, tira a pizza que sobrou da embalagem, guarda em um pratinho, cobre com aquele plástico que cola no prato e veda tudo, coloca o prato na geladeira, volta para o sofá e tenta sorrir. Ele te olha e diz vou-guardar-as-coisas. Você tenta sorrir mais uma vez e diz que já guardou tudo. A louça fica na pia olhando para você, você fica olhando para ela com cara feia, apaga a luz da cozinha e vai dormir. No outro dia você acorda, a pia está suja, mas você está atrasada e tem que levar o lixo para fora. Por isso, tira os lixos e deixa a louça para as formigas, baratas e ratos. No meio de tudo surge uma ideia: nunca mais lavar a louça e ver o que acontece, afinal, você também trabalha, chega cansada, tem seus problemas, faz a unha, tem que se preocupar se tem comida em casa, tem que fazer a janta, tem que arrumar tudo.
A melhor coisa que tem é dormir e acordar ao lado de quem você ama. Melhor ainda é se quem você ama tem a sensibilidade de se colocar de vez em quando no seu lugar. Os trabalhos domésticos precisam ser divididos para não ficar pesado para ninguém. A arrumação da casa não é tarefa feminina. Antigamente, o homem era o provedor e a mulher cuidava da casa e dos filhos. Mas hoje em dia mulheres e homens trabalham, têm reuniões, se cansam, colaboram com as despesas da casa. Se você gosta de chegar em casa e ter tudo limpo, pronto e a jantinha na mesa, faça isso de vez
