Crônica da vida real

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Eu cansei. Simplesmente enchi o saco. Sabe quando você não tem mais paciência para pequenas coisas? Pois então, é isso. Já sentiu? Procura no fundo - ou na superfície - de você mesmo e me responda com toda a franqueza: já sentiu aquela inquietude e aquela vontade de ser você, puro, sem gelo, sem rodeios, sem nada? Ando assim, falando na lata.

Mudei quando pensei que ia morrer. Resolvi não me estressar tanto, a vida é tão curta, tenho tantos sonhos, tanta vontade, tanto por fazer, tanto querer. Os trinta se aproximam cada vez mais e, junto com eles, um desejo maluco de me encontrar. No meio disso, me sinto cada vez mais. Mudanças mil. Sosseguei meu coração, pedi calma para meu sistema nervoso, empacotei algumas coisas e mandei seguirem seu rumo. Me sinto viva, livre, capaz de fazer qualquer coisa. Hoje sinto que posso dominar o mundo, tenho uma força que não sai de férias e, principalmente, acredito em mim. O mais importante: descobri que não sei nada, um universo inteiro me espera. E a minha vontade é de ir.

No próximo mês, no dia nove de outubro, o blog faz cinco anos. Ele me trouxe alguns amigos, diversos conhecidos, me fez ver que as palavras voam pelo mundo, invadem janelas, corações, vidas. Isso é tão lindo, tão mágico, tão verdadeiro. Existe uma troca fantástica entre quem escreve e quem lê. Tem coisa mais bela? Recebo um carinho imenso de você, que agora me lê. E adoro, pode ter certeza. Leio cada e-mail que recebo e respondo todos com o maior carinho. Adoro gente educada e franca (tem coisa melhor?). Mas confesso que já passei por poucas e boas. Por isso, hoje quero dividir parte disso com você.

Já aconteceu de tudo, vou citar alguns exemplos. Um cara tinha brigado com a namorada e, como ela adorava o blog, ele pediu que eu escrevesse um e-mail para ela, pedindo que ela o ouvisse e voltasse. Outra vez, uma menina queria um emprego e pediu que eu escrevesse uma carta como se fosse ela. Pode? Um cara já pediu para eu escrever uma declaração de amor. Já recebi pedidos de casamento, propostas nada decentes, e-mails absurdos mesmo. Já me mandaram originais. Já pediram conselhos amorosos. Já me pediram dinheiro emprestado. Já me pediram para escrever para a mãe, o pai, a avó, a tia, o chefe. Você não faz ideia da quantidade de conselhos que me pedem. Já falei disso aqui uma vez. Não sou a guru do amor nem a grande maga das palavras. Eu sou humana como você. Minha vida amorosa não é 100%. Eu também brigo, também tenho ciúme, também choro, também me estresso, também discuto por causa da louça suja. Tenho meus traumas, manias, defeitos, confusões. Não sou perfeita e nunca vou ser (insisto nisso).

Se tem uma coisa que detesto é quando erram meu nome. Meu nome é Clarissa, não é Clarisse. Já aconteceu umas 3 ou 4 vezes: "oi, Clarisse, adoro teu blog e amo teus textos, quero comprar teu livro". Na primeira vez, fiquei quieta, respondi direitinho. Na segunda, eu respondi direito e disse "ah, meu nome é Clarissa, com A, viu?". Na terceira, eu falei "você adora tanto o que escrevo que nem sabe meu nome". Sim, fui irônica. Sim, fui. Sim, sou. Defeito, qualidade ou o quê? Sei lá, mas sou, tá no meu DNA. Tem meu nome bem grande no blog, a pessoa é cega? Se eu curto algum escritor, cantor, dançarino ou ator vou descobrir coisas sobre ele. Nome, principalmente.

As duas últimas foram hoje. Primeiro, uma menina perguntou se eu podia dar um desconto na compra do livro. Não, querida, não posso. Você pode estar me achando esnobe. Não, não sou. Você sabe qual a porcentagem que um autor ganha em cima do preço de capa? Não sabe, né? Pois então, ninguém enriquece escrevendo. Mas ninguém pode escrever de graça. O livro exigiu bunda sentada na cadeira, stress, incomodação. Não pense que foi bem legal: escrevi e deu tudo certo. Deu tudo muito errado! Até achar uma editora foi um parto. Até sair o livro, mais um parto. Incomodações mil. Pensa que é fácil? Eles atrasaram tudo. O lançamento era para ser em setembro e acabou sendo em maio. Entende isso? E olha que não tô contando nem metade. Imagina o que aconteceu nesse meio tempo. Não, não posso dar desconto. Engraçado, ninguém reclamou do preço do livro. Inicialmente, eu tinha achado caro. Depois, pesquisando, vi que não era, não. A minha editora trabalha com impressão sob demanda, é um preço justo.

Quer saber qual foi a segunda de hoje? Uma menina escreveu dizendo que tinha gostado do blog e queria saber como fazia para comprar o livro. Pareceu ser bem educada. Respondi, como de costume: olha, para comprar o livro a pessoa deposita na minha conta o valor e eu envio. Então, ela me perguntou se não estava à venda em livrarias. Falei que não, que era só comigo. Então, a menina perguntou quantas páginas o livro tinha. E ainda completou: "é que preciso convencer meus pais". Eu ri, afinal, nunca tinham me feito essa pergunta. Ri e respondi. Então, ela disse que não conseguiu ler todo o resumo (resumo = quarta capa, que não é resumo) na foto do Orkut e completou "é pedir demais ou dá pra falar sobre o que realmente é o livro?". Perguntei pra menina se ela estava brincando. Qualquer pessoa que lê o meu blog sabe sobre o que é o meu livro. Por quê? Simples, no cantinho tem o Twitter do livro, um site que explica e dá detalhes sobre o Um Pouco do Resto. E tem mais: quando eu quero comprar um livro no mínimo sei do que ele trata ou aborda. Mandei o site pra ela, lá tem informações. E complementei dizendo que os pais nunca negam cultura para os filhos. Então, a menina disse que foi um pouco de "preguiça" da parte dela e completou: "Vou ver aqui então e qualquer coisa entro em contato contigo". Falei que não era preguiça, mas uma espécie de falta de respeito. Se a pessoa gosta de uma coisa ela pesquisa sobre essa coisa (ou só eu sou assim? oi?). E ainda falei que coisas inusitadas sempre acontecem comigo (sim, um caso como esse foi a primeira vez). Eis que a menina me respondeu, sim, ela me respondeu de uma forma bem gentil: "Acho que falta de respeito é cobrar 35 reais em um livro de 96 páginas, aqui eu consigo Shakespeare por menos, mais tudo bem, situações desnecessárias sempre acontecem comigo!".

Nem vou discutir com quem desconhece o "mas" (e fala "mais tudo bem"). Acho que ela tá precisando ler mais Shakespeare.
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