Dizem que viajar amplia os horizontes. E que pisar na areia renova as energias. E que ver o mar acalma a alma. E que descansar faz bem para a saúde. Acredito em tudo que dizem, porém me arrisco a dizer que viajar é ótimo, mas voltar para casa é melhor ainda.
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Voltando para casa a gente dá valor para o colchão, para o travesseiro, para coisas pequenas e bobas, para coisas grandes e preciosas, para o silêncio entre as paredes, para a calmaria do nosso canto, para as nossas certezas. Quando a gente volta, para algum lugar ou para a gente mesmo, compreendemos o que os dias insistem em nos dizer. E, mesmo quietinhos, eles dizem muito.
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Confesso que precisava sair por uns dias. E abro o coração: estava com um medo danado de viajar. Medo do avião, medo do que me esperava, medo do pânico, medo do medo. A síndrome do pânico te deixa com medo de tudo, com medo da sombra, com medo do sentimento, com medo da morte, com medo da solidão, com medo do abandono, com medo de sentir medo. É um inferno, nunca pensei um dia passar por isso, mas sigo firme, acredito que tudo tem um porquê. Sigo firme e tenho ao lado pessoas importantes e que entendem que esses medos não são bobagem.
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Sinto saudade de algumas coisas. De mim, principalmente. De como eu era. Mas acho que a gente se transforma, assim como a vida, assim como os dias. Tudo é aprendizado, tudo tem motivo. Essa certeza ninguém me tira. Tudo na vida tem explicação. Não sou de lamentar, tampouco conto minhas lamúrias dizendo que-foi-que-eu-fiz-que-cruz-é-essa-que-carrego. Não sou vítima da situação. Tem tanta gente sofrendo, tanta gente se estrepando, tanta gente guerreira, que encara a vida de peito aberto sem choro e sem sentir pena ao se olhar no espelho. Não tenho motivos para lamentar. Mas tenho muitos para agradecer. O pânico está fazendo eu me conhecer. Ficar de frente para cada medo, cada machucado, cada coisa que pensei que tinha passado, mas não passou. O pânico está fazendo com que eu me teste, me descubra, me enfrente. Tem coisa melhor que isso? A gente aprende se ralando ou estudando. E eu sempre fui da turma do fundão, por isso aprendo na marra.
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Antes, eu não tinha alguns medos. Hoje eu tenho. Antes, eu não sentia que ia morrer. Hoje eu sinto. Antes, eu não achava que a qualquer momento podia me dar um treco. Hoje eu acho. Mas sei que vai passar. Sei que vai. Sei que logo logo vou reencontrar aquela parte que eu sinto falta. E vou aprender com cada tropeço, cada queda, cada nova descoberta, cada novo olhar sobre a vida.
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Já ouvi gente dizendo que o pânico é coisa de gente fresca. E que o pânico é coisa de gente louca. E que o pânico é besteira. As pessoas não sabem o que dizem, pensam que entendem de tudo e que são donas da verdade. Cada um sabe o que sente e como sente. Não devemos julgar. Devemos, sim, respeitar e tentar entender e ajudar.
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A gente percebe a importância de alguém quando esse alguém percebe exatamente a importância das coisas pra gente. Hoje eu vejo isso com muita clareza. Dois dias antes de eu viajar, tive uma forte crise. Um dia antes de eu viajar, outra. Pensei que era um aviso, um sinal olha-não-vai. Mas eu fui. E foi ótimo. Venci alguns medos. Lá, me deu uma crise. Aquela foi diferente. Chorei, chorei, chorei por causa de uma simples dor no braço. Achei que aquela dor era o começo de um AVC ou algo assim (coisa do pânico, qualquer coisa a gente acha que vai morrer, sente que está morrendo, é péssimo e difícil de explicar, quem já teve sabe do que falo). Então, uma coisa aconteceu: Francisco sentou de frente para mim na cama, segurou as minhas duas mãos e disse para eu respirar bem devagar. Ficamos um de frente para o outro, de mãos dadas, respirando juntos. Às vezes, eu parava para chorar. Então, ele me dizia para continuar fazendo o exercício de respiração. Passou a crise, passou a dor no braço. Ficou a certeza de que o amor da minha vida estava bem ali na minha frente, me dando apoio para que eu, enfim, voltasse para mim.